A menina Luísa Josefina (1)
Meu caro ouvinte! Transcorrendo hoje o 122º aniversário de nascimento da venerável Madre Maria Teodora Voiron, este programa sente-se feliz em poder reviver a sua memória abençoada, levando aos lares do Brasil um resumo de sua biografia e de alguns fatos prodigiosos obtidos por sua intercessão, após a morte. Cultuaremos assim a heroína que “foi grande porque soube ser pequena” e que hoje é exaltada porque, em vida, soube ser humilde.
É sempre com emoção que descerramos a cortina do passado para espiar o que ficou escondido atrás de suas dobras. Nosso coração pulsa apressadamente, nossos olhos refletem um brilho estranho e nossos sentidos se extasiam novamente com a volta de cenas já conhecidas.
Vivamos, pois, essa sensação, penetrando sorrateiramente num “cantinho do céu”, perdida na França, na distante Chambéry. Lancemos o olhar para a casa feliz que ali vivem – Cláudio e Catarina Voiron. O primeiro, pai de família exemplar, é a probidade personificada. A bondade com que trata os que o rodeiam, e principalmente os últimos de seus servos, atraem para a sua pessoa a estima e a admiração de todos.
A senhora Voiron, dotada de caráter forte mas conciliador, é o protótipo da mulher virtuosa. Dona de casa excelente, sabe fazer de seu lar o ambiente propício ao desenvolvimento de todas as virtudes. Orienta pessoalmente os trabalhos, distribuindo, logo ao raiar da aurora, a tarefa aos criados. Mais, porém, do que o labor material, preocupa a nobre dama o bem espiritual de todos da casa, exigindo o fiel cumprimento da lei de Deus.
Não admite que ninguém fique sem assistir à missa e a homilia dominical e, para controle da fidelidade a este ponto, interroga a criadagem sobre o assunto do sermão. Aos que respondem satisfatoriamente, recompensa-os com um copo de vinho ao jantar.
Para os que a cercam tem sempre uma boa palavra, um conselho inspirado e, em suas necessidades, presta-lhes auxílio eficaz. Faz da sua vivenda o santuário bendito, onde florescem as mais heroicas virtudes e dá com o exemplo sua lição mais eloquente.
Vivem os jovens esposos dias felizes, e a 6 de abril de 1835, Deus os recompensa e abençoa, dando-lhes a alegria de contemplar o rosto angelical de sua primogênita!
Admiramos o gesto profundamente católico do casal, dando-se pressa em levar o fruto do seu amor à pia batismal, logo no dia seguinte. O Conde José De Ville e sua irmã Luiza manifestam o desejo de serem padrinhos daquela que um dia haveria de ser a glória mais lídima da família privilegiada. Em homenagem a ambos a linda criança é batizada com o nome de Luiza Josephina. Nome verdadeiramente profético: de seu patrono São Luís aprende a amar e estimar a pureza virginal, que conservaria intacta até o fim da vida. De São José herda a humildade e obediência, que a faz a religiosa perfeita, cumpridora das leis e regulamentos do Instituto, em que mais tarde ingressaria.
Cresce a menina cercada da ternura e vigilância da mãe querida, ciosa do tesouro presenteado pela Divina Providência.
De inteligência precoce, muito viva e irrequieta, encanta os que a veem. Episódios prodigiosos fazem prever na garota de então a eleita do Senhor, a futura missionária, o anjo dos pobres e pequeninos, a bandeirante intrépida, a semeadora iluminada da seara divina…
06 de abril de 1957
Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu