Somos do Senhor, não pertencemos a nenhum “César” de turno
O Evangelho de hoje Mt 22,15-21 nos diz que alguns fariseus se unem aos herodianos para armar uma cilada a Jesus. Estavam sempre procurando fazer-lhe armadilhas. Aproximam-se d’Ele e perguntam-lhe: «É lícito ou não pagar o tributo a César?» (Mt 22, 17). É um engano: se Jesus legitima o imposto, coloca-se do lado de um poder político mal tolerado pelo povo, enquanto, se diz para não paga-lo, pode ser acusado de rebelião contra o império. Uma verdadeira armadilha. Mas ele escapa a esta cilada. Pede-lhes que lhe mostrem uma moeda, que tem a imagem de César, e diz: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (v. 21). O que significa isto?
Estas palavras de Jesus tornaram-se de uso corrente, mas por vezes foram mal utilizadas – ou pelo menos redutoras – para falar da relação entre a Igreja e o Estado, entre os cristãos e a política; muitas vezes são entendidas como se Jesus quisesse separar “César” e “Deus”, isto é, a realidade terrena e a realidade espiritual. Às vezes também pensamos assim: a fé com as suas práticas é uma coisa e a vida quotidiana é outra. E isso é errado. É uma “esquizofrenia”, como se a fé não tivesse nada a ver com a vida concreta, com os desafios da sociedade, com a justiça social, com a política, etc.
Na realidade, Jesus quer ajudar-nos a colocar “César” e “Deus” cada um no seu devido lugar. A César – isto é, à política, às instituições civis, aos processos sociais e econômicos – pertence o cuidado da ordem terrena; e nós, que estamos imersos nesta realidade, devemos devolver à sociedade o que ela nos oferece através do nosso contributo como cidadãos responsáveis, cuidando do que nos é confiado, promovendo o direito e a justiça no mundo do trabalho, pagando honestamente os impostos, empenhando-nos no bem comum, etc. Ao mesmo tempo, porém, Jesus afirma a realidade fundamental: que o homem pertence a Deus, o homem todo e todo o ser humano. E isto significa que não pertencemos a nenhuma realidade terrena, a nenhum “César” de turno. Pertencemos ao Senhor e não devemos ser escravos de nenhum poder mundano. Na moeda, portanto, está a imagem do imperador, mas Jesus lembra-nos que na nossa vida está gravada a imagem de Deus, que nada nem ninguém pode ofuscar. A César pertence as coisas deste mundo, mas o homem e o próprio mundo pertencem a Deus: não nos esqueçamos disso!
Compreendamos, então, que Jesus está restituindo a cada um de nós à própria identidade: na moeda deste mundo está a imagem de César, mas tu – eu, cada um de nós – que imagem trazes dentro de ti? Façamos esta pergunta a nós próprios: eu, que imagem trago dentro de mim? Tu, que imagem trazes na tua vida? Lembramo-nos de que pertencemos ao Senhor, ou deixamo-nos moldar pela lógica do mundo e fazemos do trabalho, da política, do dinheiro os nossos ídolos a adorar?
Que a Virgem Santíssima nos ajude a reconhecer e a honrar a nossa dignidade e a de cada ser humano.