Como está nossa luta contra o mal?
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Uma onda de assassinatos de crianças no início da década de 1980 perturbou-me profundamente. Os tais maníacos raptavam suas vítimas e as levavam para um lugar deserto, um bosque, matando-as com crueldade. Confesso que até hoje ouvir as palavras “horto florestal” causa-me um certo desconforto, pois ficou famoso o sujeito que levava suas vítimas para matá-las no horto florestal de São Paulo. Até que um dia saiu estampada na primeira página de um jornal ituano a foto de um homem que também teria realizado um desses crimes na cidade. Foi a gota d’água: já não dormia, acordava de madrugada, não queria ficar sozinho, chorava… Coisas que frequentemente acometem crianças assustadas.

Minha mãe, então, resolveu levar-me para uma conversa com Monsenhor Camilo Ferrarini, pároco da Candelária, que diariamente atendia dezenas de pessoas em seu escritório, na casa paroquial. Monsenhor Camilo era um sacerdote muito querido pelos ituanos. A muitos atraía pela sensibilidade que tinha no trato dessas situações, na orientação espiritual e psíquica que dispensava.

Ele rezou comigo que já era seu conhecido desde a pia batismal e começou dizendo-me: “O mal no mundo sempre existiu e sempre existirá”. Eu tinha no máximo 10 anos de idade e, malgrado já tenham passado algumas décadas, sempre me lembro dessa frase, assim como do que o santo sacerdote me disse depois: que esse mal dominava o mundo e havíamos de lutar com todas as nossas forças contra ele pela oração, pela fuga das ocasiões perigosas, por uma atitude de sempre nos colocarmos na presença de Deus e Ele à frente de tudo na nossa vida.

Agora, quando em plena quarta-feira santa um jovem de 25 anos invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau/SC, e assassinou crianças entre quatro e sete anos com uma machadinha, ou quando, uma semana antes, um menino de apenas 13 anos matou uma professora e esfaqueou outras quatro pessoas na zona oeste de São Paulo, não há como não lembrar e refletir sobre o que me disse Monsenhor Camilo há tantos anos. O mal continua existindo no mundo, mas já não lutamos contra ele com as armas que efetivamente dele nos livrarão: a oração e a priorização de Deus em nossas vidas.

À vista da surreal propaganda de que um massacre generalizado aconteceria nas escolas do país, minha mulher e eu utilizamos o horário de um almoço para conversar seriamente com nossos filhos, inevitavelmente preocupados com a situação. Disse a eles que muito ouviriam a respeito disso nos próximos dias na imprensa, nas rodas de conversa e na própria escola: que seria necessário aumentar a segurança nas escolas, que os pais deviam ficar atentos às atitudes e movimentos dos filhos, que armas e outros objetos deveriam ficar fora do alcance deles etc., etc. Tudo aquilo era válido, não há dúvida, mas – continuei – em momento algum alguém lhes diria que devem se voltar para Deus e recolocá-lo no local de onde foi arrancado pelo “estado laico”.

“O que está acontecendo com o mundo?”. “O que acontece com nossos jovens e adolescentes?”. “O que está acontecendo com nossas escolas e, agora, com nossas crianças?” São perguntas que muitos fazem, perplexos diante do desenrolar das notícias. O que está havendo, nada mais, nada menos, é o grito de uma sociedade que deliberadamente aboliu Deus de sua vida.

Com efeito, não se pode mais falar de Deus, de Jesus, de Maria Santíssima, nas escolas. As católicas são as piores, com medo de “ferir as diferenças”. Proíbem-se e retiram-se os símbolos religiosos, os crucifixos das repartições públicas. Nas grandes empresas já nem os põem. Sinos incomodam os ouvidos e no máximo podem ser tocados durante o dia. Procissões confundem-se com mesas de bar apinhadas de garrafas de cerveja, música e risos nas calçadas. Roupas são cada vez mais imorais, inclusive nas igrejas, durante a missa, profanando a Eucaristia e a Casa de Deus. Vestimos nossos filhos justamente daquele contra quem pedimos todos os dias que Deus nos livre – “Mas livrai-nos do mal” – em festas de Halloween e similares. Uma escola de samba paulistana apresenta uma figura do demônio surrando e arrastando Jesus pela passarela, materializando toda a surra a que submetem Nosso Senhor a cada ano em seus desfiles de carnaval, com sua devassidão e enredos contrários à religião; e, acionada, a justiça paulista decide que no caso “não houve abuso nem vilipêndio à fé”. Filmes, novelas e programas de televisão destroem os valores cristãos enquanto celebridades são “canceladas” nas redes sociais quando professam publicamente sua fé ou mesmo fazem meras insinuações nesse sentido. Promovem-se verdadeira tempestade na cabeça das crianças, tentando incutir-lhes a ideia de que sexo é um condicionamento social e que cada uma pode optar pelo que melhor lhe agrade… Que resultado podemos esperar disso tudo?

“O mal no mundo sempre existiu e sempre existirá”, nos alertava já há tantos anos o saudoso pároco ituano. Resta saber que armas estamos usando para lutar contra esse mal: recolocando a pessoa de Cristo no seio da sociedade, de onde nunca devia ter sido tirado, ou aderindo a uma ideologia nefasta que O quer abolido das organizações, das famílias e do coração das pessoas?