ACADIL celebra centenário do  Professor João dos Santos Bispo
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A Academia Ituana de Letras, com apoio do Jornal “A Federação”, celebra o centenário de nascimento do Professor João dos Santos Bispo, em 05 de agosto. Em prosa e verso, os acadêmicos lembram esse grande ituano que ao longo de décadas, contribuiu incansavelmente para a Educação e a Cultura de nossa cidade.
Homem de rara gentileza e abundante cultura, valorizada por seu apego ao Humanismo e à Ética, educador e orador brilhante, João Bispo será sempre exemplo a ser seguido e reverenciado.
Em tempos tão desalentados como esses que vivemos, sua falta é ainda maior.
Faltam-nos suas palavras sábias e tranquilas, seu entusiasmo com os livros, o profundo conhecimento das histórias do passado longínquo e do mais recente da cidade, de fatos e personagens que discorria com desenvoltura e satisfação.
Falta-nos, sobretudo, a janela aberta de sua casa, o sorriso maroto e a prosa envolvente.

Allie Marie Queiroz
Cadeira 25 – Presidente da Academia Ituana de Letras

De porta aberta

Uma das características marcantes na personalidade do Professor João dos Santos Bispo, essa, de que manteve a porta de sua residência, na mais central das ruas da cidade, sempre e indefectivelmente aberta.
E quem porventura transitar hoje pela rua Barão do Itaim, vai perceber que seus familiares mantiveram essa tradição.
O professor, com esse hábito, quase um convite velado a que amigos ou não se dignassem entrar para um papo solto, mais ainda se explícito, quando da calçada era visto na janela.
Mais ou menos dessa forma, acabei eu de me prestar a visitá-lo com alguma constância, de tempos a tempos. Inesquecíveis os longos períodos de prosa e mais ouvir o seu parecer e aprender, ali, na sua biblioteca.
Fora num desses contatos que sua senhoria me pedira a gentileza de entregar uns papéis na Gráfica Ottoni, soltos, sequer sob envelope, a ponto de me conceder que, se me aprouvesse, poderia ler. Ali mesmo, na frente dele, percebi de que se tratava de um eloquente discurso que fizera na Câmara Municipal de Itu, num 2 de fevereiro, anos atrás. Já na Praça da Independência, Jardim do Carmo, não me contive, sentei-me e o saboreei por inteiro.
E surgiu a ideia.
Cerca de dois anos anteriores a 2010, numa de minhas crônicas no semanário “A Federação”, no espaço denominado “Última Página”, fiz alertar ao poder municipal e a todos enfim, de que já se avizinhavam os 400 anos de fundação da cidade de Itu. Chegara-se ao depois a meses bem mais próximos e sem quaisquer iniciativas a propósito do magno evento, falha que levantei numa reunião da Academia Ituana de Letras. Ali se definira então visita ao Executivo de parte da ACADIL e para lá nos dirigimos, a saudosa confreira Lourdes Sioli e eu. Deu-se daí a largada dos primeiros passos.
Criou-se então uma Comissão preparatória, de dez membros, nela incluído o meu nome. Não se pôde fazer muita coisa, sob a permanente justificativa de que não havia numerário para tanto.
Veio o mês de fevereiro de 2010 em singelas comemorações aqui e ali, com o realce pelo menos no dia 2 com a inauguração do monumento ao fundador da cidade de Itu, Domingos Fernandes, na Praça da Independência.
Na época, no mesmo mês, presidente da ACADIL, não pude deixar por menos. Fora subdividida em vários trechos aquela mesma elegia do professor João Bispo e assim representada, adaptada ao feitio de jogral, em sessão soleníssima numa manhã de sábado, penúltimo do mês, no excelente auditório do Sincomércio. Finda a exibição, só então se informara a autoria dessa inspirada peça, dele, o Professor, na primeira fila do auditório. Prorromperam aplausos longamente, muitos presentes a se levantarem de seu lugar, para cumprimentos e abraços ao autor, àquela altura já um tanto combalido. Comoção generalizada.
No sábado seguinte, fevereiro ainda, já em solenidade noturna, na praça Padre Bartolomeu Taddei, Largo do Bom Jesus e pela Prefeitura Municipal, o mesmo texto fora lido em prosa, também aí, sentado, o nosso homenageado de hoje e com grande afluência de público.
Por essas e outras inspirações, o inesquecível mestre continua presente nas letras e no meio educacional e cultural de Itu, a este ensejo, hoje, 5 de agosto, a data festiva de seu centenário.
Saudade, mestre.

Bernardo Campos
Cadeira 13 – Patrono: Luís Colaneri

O meu amigo João

Dia 5 de agosto deste ano de 2020, que nos leva a tantas e tamanhas reflexões, vamos marcar o centenário do grande tribuno ituano João dos Santos Bispo, o meu amigo João.
Muitas lembranças se acumulam do muito que aprendi com o Mestre, como Vice-diretora no período da tarde no Instituto de Educação “Regente Feijó”. Inesquecível, entretanto, é a lembrança da nossa chegada em Itu, meu marido e eu, plena Festa do Divino, além de ser o dia do aniversário da Escola – 19 de maio, portanto feriado na cidade.
O Diretor do “Regente Feijó, ao saber da chegada da nova Professora de Inglês, fez questão de abrir o Colégio e dar-lhe posse imediata. E com a posse veio o gentil convite para o jantar comemorativo da Escola, no Hotel Central, onde estávamos hospedados. Impressionou-nos o modo de ser do Diretor, respeitoso, cordial e afável, integrando-nos imediatamente à comunidade de professores e funcionários. Um verdadeiro gentleman!
Nossa família teve o privilégio de conviver com a sua bela família, tão bem cuidada pelo zelo e dedicação da sua Laura.
“Dar tempo ao tempo” era uma de suas frases favoritas, pois assim as soluções seriam mais justas.
Serenidade foi a principal característica dessa pessoa tão especial: JOÃO DOS SANTOS BISPO!

Maria Angela Pimentel Mangeon
Cadeira nº 17 – Patrono Olívia Sebastiana da Silva

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“Quando me aproximo da estante de livros de poesia, proximidade constante nesta quarentena, lembro-me com saudade do professor João dos Santos Bispo. Nela marcam presença exemplares de um Fagundes Varela, de um Martins Fontes, de um Drummond e dos inspirados poemas de Edvar Carmilo. Se levanto o olhar para a prateleira de cima vejo um Sérgio Milliet e dois Aluísios de Castro, que pertenceram a meu pai. Essas belíssimas obras poéticas nos foram presenteadas por João Bispo, o grande e saudoso amigo bibliófilo. “
João Bispo centenário? Mal posso acreditar… Na memória ainda o guardo moço e elegante, na lírica eloquência ao ritmo dos versos que costumava dizer de cor, encantando-nos a todos com a fluência de sua oratória brilhante!

Maria Lúcia A. de Marins e Dias Caselli
Cadeira nº 01

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“Conheci o mestre João dos Santos Bispo em Casa Branca, onde ele foi meu diretor no sempre tradicional Colégio Estadual e Escola Normal “Prof. Francisco Thomaz de Carvalho, onde eu cursava o ginásio. Dono de uma invejável erudição, orador nato e emérito, algumas das muitas outras qualidades que o projetaram para um horizonte de muitos amigos e admiradores. Era sempre muito requisitado por todos os setores da sociedade ituana, por pessoas que nunca se furtaram do prazer de ouví-lo. Cada palestra ou pronunciamento seus, eram verdadeiras epopéias literárias, em que se fazia sentir também outra qualidade muito sua: o grande conhecimento que tinha do nosso vernáculo.
O meu abraço à sua memória! Para sempre, do amigo e aluno”

Inaldo Lepsch
Cadeira n.º 26

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“Menino João, de esquina
Em esquina, conversa, fala;
Não cala , apenas ensina
Quanto a vida é fugaz;
Precisa dela apenas fazer
Um sonho, leve quimera
E quem dera,viver em paz”

Durce Gonçalves Sanches
Cadeira n.º 14

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“Conheci o Prof. João dos Santos Bispo no sobrado da família, tempo de D. Aurora, sua mãe. Ele e a irmã, Maria Cecília, eram a parte intelectualizada da acolhedora família portuguesa. Depois o encontrei como diretor no Regente Feijó. Ali o atencioso educador atendia com carinho o menino imaturo e desatento.
Na juventude tive o privilégio de conviver com o bom filósofo, de enorme paciência com o neófito. Algumas vezes o acompanhei ouvindo gravações de Beethoven e Offenbach naquela sala de música, ao lado de sua biblioteca; falava-me com encantamento de seu mestre de música, Nhonhô Tristão.
João Bispo nos ensinou a ler e ouvir o que se produziu de melhor no universo das letras e das artes. Diariamente mantinha notável exercício de enlevo com a cultura. Um sábio!”

Luís Roberto de Francisco
Cadeira nº 30

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Biografia do Professor João dos Santos Bispos

João dos Santos Bispo, nasceu em Itu aos 5 de agosto de 1920, filho de Aurora Esteves Santos e de Joaquim Luiz Bispo; casou-se em 1944 com Laura de Castro Cintra, de cujo consórcio nasceram os filhos: Abelardo (falecido), Paulo Emílio, Afonso Celso e Jorge Luiz. Matriculou-se no Externato São José, anexo ao Colégio do Patrocínio e, depois, transferiu-se para o Grupo Escolar “Dr. Cesário Mota”, onde concluiu o curso primário, em 1931, e completou o Curso de Ensino Secundário no Ginásio do Estado de Itu, em 1936. Diplomou-se professor em 1939, na Escola Normal do Ipiranga, em São Paulo, licenciando-se em Pedagogia na Faculdade de Filosofia, Ciências de São Bento, na capital, em 1943.
Lecionou Filosofia e Sociologia no Colégio Estadual e Escola Normal “Dr. Francisco Tomaz de Carvalho”, em Casa Branca/SP, onde também foi Vice Diretor e Diretor. Foi transferido para Itu, por concurso, para o Colégio Estadual e Escola Normal “Regente Feijó”, onde se aposentou em 8/11/1987.
Faleceu aos 93 anos, em 27 de julho de 2013 em Itu.

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