Novos movimentos sociais e minorias ativas
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Olga Sodré

Ampliação da democracia e participação social

Movimentos sociais podem tumultuar o cenário político – como aconteceu nas eleições americanas e brasileiras. Para melhor entender a questão, sem condenar todo tipo de movimento social e forma de oposição, é importante distinguirmos seus diferentes tipos, suas minorias ativas – grupos que buscam modificar normas e situações de poder estabelecidos – e usos das liberdades democráticas. Comecei a pesquisar o assunto com Serge Moscovici (1967) e com Manuel Castells (1974), em Paris.

Movimentos sociais se manifestam por ações coletivas em defesa de alguma causa em comum. Eles podem ser uma força transformadora ou destrutiva, participar ou não de governos, ser contra ou a favor do Estado, contribuir para o avanço ou retrocesso do bem comum. No final de janeiro de 2023, foram criados pelo governo recém-eleito um conselho federal com governadores e prefeitos e um conselho de participação social interministerial.

Busca-se, assim, introduzir elementos de democracia direta, ampliando a democracia representativa pelo aumento da participação da sociedade. Porém este processo torna mais complexo e instável o funcionamento democrático. Um movimento social que apoia o governo, pode também criar-lhe problemas com suas ações, como aconteceu recentemente com as ocupações de terra pelo MST. Contudo, os canais de diálogo estabelecidos na ampliação democrática ajudam a melhor encaminhar soluções.

O atual papel dos movimentos sociais e minorias ativas insere-se no contexto de desenvolvimento das democracias. Desde a Antiguidade, elas foram incorporando novos direitos e deveres. Embora prossigam graves problemas sociais coletivos, as transformações da sociedade trouxeram modernos temas sobre desequilíbrio climático, destruição do meio ambiente, decadência ética e civilizatória, direitos culturais, religiosos, étnicos e raciais.

Multiplicaram-se assuntos relacionados às identidades e interesses de uma vasta gama de grupos: mulheres, negros, povos originários, imigrantes, etc. Assim sendo, novos movimentos sociais se associaram às lutas políticas tradicionais, exigindo a integração de suas demandas para mais ampla realização da justiça social.

Embora a participação dos movimentos sociais no contexto democrático se distinga das ações antidemocráticas e do uso das massas populares pelos sistemas autoritários de tipo nazista e fascista, líderes políticos autoritários servem-se do sistema democrático para mobilizar seguidores em grupos que se sentem menosprezados ou alijados. Tais líderes incentivam a formação de minorias ativas, usando métodos de propaganda nazista. Alimentam ressentimentos e sentimentos patrióticos, disseminam ódio, informações e falsas notícias. Geram também movimentos tradicionalistas, que pregam o retrocesso e oposição às mudanças sociais, defendendo a moral e os costumes.

Descendo aos porões de onde emergem tempestuosas reações contra o Papa Francisco e sua abertura ao mundo contemporâneo, descobri que elas estão entrelaçadas pela mesma ideologia que sustentou ataques contra as sedes dos atuais governos americano e brasileiro, contra a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos (USCCB, ‘United States Conference of Catholic Bishops’) e a Conferência dos Bispos Brasileiros (CNBB). Esta ideologia vem sendo difundida por expoentes evangélicos e católicos – americanos, alemães, e seus representantes no Brasil. Apesar de o cristianismo propor maior justiça social, amor ao próximo e construção de um mundo renovado, correntes cristãs vêm se associando a esses movimentos – como abordarei em seguida.