Um relapso cura
Agora temos um caso esquisito de disputa pelo poder. A Matriz de Itu se tornara uma das mais prestigiosas paróquias da diocese, dada a força e recurso financeiro de suas irmandades. Um padre com intenção de se tornar respeitado e poderoso desejaria ser o pároco. Foi o que aconteceu ao padre Antonio Pina de Vasconcelos. Não foi um bom sacerdote. Era um homem grosseiro, malcriado e relapso, como conta Francisco Nardy Filho. Além do mais, pasmem, mantinha uma mulher em casa, certa Catarina Maria Rodrigues, com quem teve um filho, homônimo que também foi padre. Para ela chegou a dar um terço de prata retirado das mãos de Nossa Senhora do Rosário!
Parece que os poderosos do reino, que nomeavam os párocos, não se importavam com o escândalo. Foram abertos processos contra ele por parte do clero local. Padre Pina não fazia batizados, deixando o encargo a seus auxiliares; não registrava óbitos e não atendia ao chamado de doentes para a unção dos enfermos. Vivia para manter sua vida pessoal, receber a côngrua da paróquia e escandalizar os fiéis. As recomendações do visitador, Padre Antonio Joaquim de Abreu, que passou por Itu em 1814, não fazem menção desse vergonhoso sacerdote, talvez em conluio com o esquema de poder vindo do Rio de Janeiro.
O pároco nasceu em Jundiaí, filho de Matheus de Pina e Vasconcelos e Luiza Maria de Lacerda.
Em 1819, cheio de processos na justiça, foi finalmente afastado, depois de sete anos. Assumiu, porém o cargo de Vigário da Vara, ou seja, administrador regional da Igreja, o que ainda nos mostra quão respeitado era o homem. Tirara o cargo do padre Nuno de Campos Bicudo.
Sua influência se estendeu pelos anos seguintes, perturbando o ambiente local, inclusive, empurrando seu irmão padre (José), para a nossa Matriz.
Luís Roberto de Francisco -Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”