Trechos do Necrológio de Madre Maria Teodora Voiron
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O jornal A Federação publica trechos inéditos do necrológio da Venerável Madre Maria Teodora Voiron, escrito em 1926, alguns meses após a sua morte, traduzido dos originais publicados na França. O documento histórico revela o odor de santidade com que Madre Teodora faleceu a 17 de julho de 1925, em Itu.

 

Enquanto foi possível, Madre Teodora era conduzida à igreja na sua cadeira de rodas; que alegria para ela contemplar o Salvador e que edificação para as alunas que com razão a viam como uma santa!

O reverendo Padre Masset, nosso capelão, levava-lhe a comunhão diariamente durante os cinco anos de sofrimento e a visitava durante o dia.

Nossa Madre, que amava tanto Jesus, preocupava-se no entanto, ao pensar no julgamento e por isso temia a morte; mas, no final da vida a confiança triunfou, tanto que ela dizia num tom suplicante: “Ó deixem-me morrer!…”

Oito dias antes da morte a boa madre Ana Justina, que a rodeava de filial solicitude, sugeriu-lhe receber os últimos sacramentos, que ela tinha pedido muitas vezes. Madre Teodora os recebeu com tal piedade que impressionou os que estavam com ela e a partir desse momento fechou-se no seu interior com Jesus crucificado e não pronunciou nenhuma palavra. Ninguém soube o que se passou entre ela e o Esposo de sua alma. Fez-se uma grande calma; sozinha, pregada à cruz, as palavras que lhes escapavam, de tempo e em tempo, faziam entender que ela estava no Getsêmani, agonizando com o Senhor. Seus sofrimentos eram intoleráveis; na intimidade ela os confia a Deus sem se queixar deles. Sua face inchada, pálida; seu olho direito muito inflamado, de onde corriam gotas de sangue, como lágrimas, dando a impressão de ver Jesus na cruz.

Na manhã do dia que devia ser o último para ela – Sexta feira, 17 de julho, o Senhor pediu ainda à sua serva o mais difícil dos sacrifícios: apesar dos esforços não pôde abrir suficientemente a boca para receber a Eucaristia e ficou privada desta suprema consolação. Não era mais ela que devia oferecer a Jesus hospitalidade no coração, mas Ele que se apressava em recebê-la na pátria celeste. Um pouco mais tarde, com efeito, às dez e meia, nossa veneranda Madre entregou sua bela alma a Deus com a última absolvição dada pelo nosso digno capelão, o reverendo padre Masset que a assistiu durante a agonia.

Depois de sua morte uma transformação extraordinária se operou em nossa veneranda Madre: as rugas desapareceram e seu semblante, tão alterado pela doença, torna-se semelhante ao dos santos que parecem dormir nas abóbadas de nossas Igrejas. Unânime é o pensamento de que ela morreu em odor de santidade.

A notícia de sua morte espalhou-se rapidamente em todo o estado de São Paulo e além. No Congresso de senadores e deputados foi mencionada sua morte, e foi registrada, na ata da sessão, um voto de condolência pela grande perda ao país.

Em Itu o velório foi público. O Presidente do Estado de São Paulo se fez representar no enterro por uma das principais autoridades de Itu.

Em São Paulo o serviço solene foi celebrado nas duas principais grandes igrejas da capital; as autoridades civis e militares, a elite da sociedade, a classe média, os pobres tão amados pela reverenda Madre estiveram presentes.

Em muitos outros lugares, missas foram celebradas a pedido das antigas alunas do Patrocínio.

O reverendo padre jesuíta que fez na nossa igreja o elogio fúnebre de Madre Teodora pintou com termos magníficos a ascensão desta alma heroica, pela prática das três virtudes que a distinguiram particularmente: sua caridade incomparável com os pobres, os pequenos, os humildes; em uma palavra, pelos sofredores de Nosso Senhor Jesus Cristo. Segundo: seu generoso desprezo do mundo e de tudo que é do mundo para realizar o mais sublime ideal: a vida religiosa, a vida perfeita. Terceiro: sua constância em praticar sempre com perfeição progressiva as regras do Instituto.

Os restos mortais de nossa saudosa Madre repousam no interior de nossa Casa Provincial cercada pelas filhas falecidas em Itu que a precederam no repouso eterno. Mãos filiais cuidam das flores do humilde túmulo onde repousa.

Casa Provincial de Itu (Brasil), 4 de janeiro de 1926.