As três damas! (Manhã – Tarde – Noite)!
por Lázaro José Piunti
Ao abrir os olhos para a vida uma figura perfilou-se ao meu lado. Jovial, ar de riso pregado na face, ela acenou para mim. Imaculadamente linda! O corpo, belo e lépido, revestido de tons alegres. Um Jaleco Branco a protegia do frio da aurora. Fui crescendo e sempre em sonhos a mulher do Jaleco Branco aparecia a sorrir para mim! Às vezes eu pressentia a sua presença entre as ramagens verdes dos arbustos, ou colhendo alegremente algumas flores nos jardins. Enquanto perdurou minha inocência a Dama do Jaleco Branco fez parte dos meus sonhos! Dela guardo doces lembranças! O tempo avançou e no calendário da vida frui diferentes momentos. Colecionei vitórias e amealhei dissabores. Vibrei nas conquistas e sofri nos revezes. Ao vivenciar outra fase a visão modificou-se. De forma dispersiva ganhou o perfil de uma mulher de rosto sério. Mas, inspirava confiança! Lembro-me sentir sua presença em pontos estratégicos do cotidiano. Quando eu cometia algum malfeito, ela me repreendia com o olhar e, ante as minhas boas ações, aprovava, no gesto característico do menear da cabeça altiva. Essa mulher, traje cinza claro, complementava a vestimenta com um Jaleco Bege. De sua imagem conservo o chamado “Princípio do Contraditório”. De repente cheguei ao outono da vida. Eu, sexagenário, o físico menos vigoroso, a lentidão dos passos já mais curtos. O andar no ritmo precavido ante a insegurança e a incerteza! Nos reflexos menos rápidos notei que outra Dama vem me acompanhando! O cenho circunspecto, aparentemente tisnado na taça da amargura! Em seu rosto há rugas – de decepção, talvez. Traços de desencanto? Estranhamente essa Dama veste roupa escura. Casaco tecido da noite sem estrelas. Roupa densa, pesada. Pois eu tive outro sonho faz alguns dias. Ou semanas. Ou será um mês?! No sonho as Três Damas desfilaram diante dos meus olhos cansados. E uma voz do além me contou segredos interpretando as visões! A Dama de Jaleco Branco é a minha infância. Despreocupada, feliz, inocente. A Dama do Jaleco Bege simboliza a minha vida adulta. Eu já não era mais o neófito dos temas ou assuntos díspares, pois estava curtido pelas vicissitudes do tempo! E a Dama de Jaleco Negro é a personificação da derradeira etapa! Do meu tempo que se esvai, a esgotar-se na diluição natural do existir terreno! Confesso: não estou com medo! Creio na Vida após a Vida! Assim, não temo a presença da Dama de noturnas vestes! Mas, se pudesse, antes de segui-la – ela parece um pouco apressada – daria o que resta de mim pedindo de volta um pouco dos dois tempos passados. Uma sobra da inocência perdida e alguma réstia de coisa útil que tenha realizado! Serão os meus tesouros, carta de alforria, talvez! Peças essenciais em minha bagagem.
- Um decênio se passou após escrever esta crônica e agora, a Dama do Jaleco Negro já não me assusta. Criamos uma familiaridade respeitosa, certa cumplicidade. Explico: Eu, pela graça da Fé polvilhei de luz o seu Jaleco Negro e a marcha final está iluminada!