A força oculta do Bem em Madre Maria Teodora Voiron
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Dom Arnaldo Carvalheiro Neto
Bispo da Diocese de Jundiaí

“Façamos o maior bem que pudermos, da maneira mais oculta possível.” (Venerável Maria Teodora Voiron)

Esta frase lapidar de Maria Teodora Voiron (1835–1925), religiosa francesa das Irmãs de São José que, como missionária, chegou ao Brasil em 1859, oferece um programa de vida cristã que conjuga a plenitude da ação caritativa com a profundidade da humildade evangélica. À frente da Congregação no Brasil por sessenta anos como superiora provincial, Madre Voiron viveu intensamente a primeira parte de sua máxima, construindo um legado material e espiritual extraordinário, que se manifestou em sete colégios pioneiros na educação feminina — incluindo órfãs e filhas de pessoas escravizadas, além de asilos, orfanatos e casas de saúde.

A exortação “Façamos o maior bem que pudermos” ecoa o mandamento do amor, centro da mensagem cristã. A Sagrada Escritura nos convoca a uma caridade sem limites, como evidenciado nas obras de misericórdia corporais e espirituais (cf. Mt 25,35–40). A vida de Madre Voiron no Brasil é um testemunho concreto desse apelo: ela não mediu esforços para realizar o maior bem possível diante das necessidades de seu tempo, dedicando sua energia e seus talentos à fundação de instituições que atendessem aos mais vulneráveis. Esse imperativo de fazer “o maior bem” nos impele a uma generosidade sem cálculo, a colocar todos os nossos dons a serviço do Reino de Deus.

Contudo, a máxima adquire profundidade mística na segunda parte: “da maneira mais oculta possível.” Esta orientação ressoa diretamente com o ensinamento de Jesus em Mateus 6,3–4, ao falar sobre a esmola e a oração: “Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.” Na experiência vivida pela Venerável, a ocultação purifica a intenção, afastando-a do desejo de reconhecimento humano e orientando-a unicamente para a aprovação de Deus, como expressão de uma caridade humilde e silenciosa. Espiritualmente, essa discrição combate a soberba e a vaidade, permitindo que a obra seja genuinamente fruto da graça e do amor a Deus e ao próximo — e não uma busca por reconhecimento pessoal. A fama de santidade que se espalhou após a morte de Madre Voiron, percebida pelas religiosas e alunas, sugere que essa ocultação não era ausência de impacto, mas sim a presença discreta e transformadora de uma vida unida a Deus.

A síntese entre “o maior bem” e “a maneira mais oculta” constitui um desafio particularmente relevante na era contemporânea, em que a visibilidade e o reconhecimento instantâneo são frequentemente supervalorizados. Vivemos tempos marcados pelo que alguns denominam “narcisismo digital” ou pela busca incessante por aplausos e elogios nas plataformas virtuais, nas quais o valor da ação parece ser medido pela quantidade de “curtidas” ou comentários públicos. A máxima de Madre Voiron surge, nesse contexto, como uma profecia silenciosa: o verdadeiro valor de uma obra de caridade ou de um ato de serviço não está em sua projeção externa, mas em sua raiz no amor a Deus e na sinceridade do coração que busca apenas o bem do outro e a glória divina — como ensina a Doutrina da Igreja sobre a primazia da caridade.

Assim, a vida e a máxima de Madre Maria Teodora Voiron nos convidam a um serviço generoso e eficaz, mas radicalmente humilde. Sua longa existência, coroada pela paciência durante os cinco anos de sofrimento após uma fratura que a deixou presa a uma cadeira de rodas, e a fama de santidade que brotou naturalmente do testemunho de sua vida reafirmam que o bem mais profundo e duradouro é aquele que floresce na discrição, alimentado pela fé e pela esperança, buscando unicamente a recompensa do Pai que vê no segredo. Que seu exemplo nos inspire a fazer o maior bem, da maneira mais humilde e oculta, confiantes nas promessas de Deus.

A todos, minha bênção.

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