A Federação no tempo do fim da guerra

A Segunda Guerra Mundial foi um divisor de épocas no século XX. Através das páginas d’A Federação acompanha-se o drama da luta na Europa, os clamores pela paz, por parte de Pio XII, a convocação dos jovens brasileiros à guerra e o seu retorno, celebrado com grandes festas nas ruas de Itu: desfile dos pracinhas e eventos para valorizar a sua coragem. Em 11 de março de 1945, inaugurou-se o edifício novo do Seminário do Carmo, compondo nova paisagem naquele conjunto arquitetônico; a Igreja ituana vivia um momento de glória, afinal contava dois filhos da terra como bispos e outro vigário geral da Arquidiocese. Cada visita deles era um acontecimento notável divulgado pelo jornal. Em outubro de 1946, o Cardeal Arcebispo Dom Carlos Mota vem à cidade para grandes celebrações no Bom Jesus e A Federação trouxe grandes matérias a respeito.
A década de 1940, marcou também um período próprio na redação deste jornal. A vinda do pároco Medeiros à Igreja Matriz trouxe outro grupo de voluntários à redação. Em 1947 o Dr. Antonio Nardy Neto, advogado, assumiu a função de diretor chefe, enquanto o prof. Joaquim Soares Moreira, português, devotíssimo de Nossa Senhora de Fátima, tornou-se secretário e a tesouraria coube ao Capitão Nabor Dias. Este era o Oficial Maior do Cartório do 2º Ofício, estabelecido no Largo da Matriz, bem próximo à redação. Era capitão da extinta Guarda Nacional, muito envolvido nos meios sociais de Itu, com dois filhos em posição de destaque na cidade, Edgar Marins e Dias, responsável pelo cartório, em que o pai era oficial, e Euclydes Marins e Dias, gerente do Banco Comercial do Estado de São Paulo. Este se tornou afamado cronista sob o pseudônimo de Humberto de Mattos, cujos trabalhos encontramos em diversos periódicos ituanos.
Humberto de Mattos foi um gigante na crônica ituana. Em mais de trinta anos de colaborações em jornais e no seu programa diário “boa noite para você, meu radiouvinte”, estabeleceu uma conexão saudável com o público, fazendo perceber a beleza rica e simples da natureza, das relações de amizade e compadrio, a riqueza da prosa com a gente miúda e o quanto os vultos do passado podem nos servir de exemplo quando sabemos extrair deles um lado positivo. A sua obra traz uma visão muito positiva da vida, buscando elevar o leitor, chamar-lhe a atenção para a cidade, suas tradições, velhas construções, muito antes de se falar em conscientização sobre o patrimônio e tombamento dele.
O jornal de 11.11.1951 saudou o Capitão Nabor Dias pela justa aposentadoria. Nesse tempo ele já havia passado a tesouraria a outro prestante cidadão, Joaquim Pires de Camargo. Euclydes Marins e Dias colaborou com A Federação até o fim de sua existência, em 1969. Ambos deixaram um legado ao jornal além da atuação voluntária: o exemplo e o talento que abriu caminho à Dra. Maria Lúcia Almeida de Marins e Dias Caselli, filha de Euclydes que, como veremos, tornou-se assídua colaboradora.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica
do Bom Jesus