Na Santa Casa de São Paulo (2)
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Encaminha Madre Teodora à Revda. Madre Geral o contrato a ser assinado pelos mesários da Santa Casa de São Paulo. Não quer, porém, ocultar da Superiora o estado em que está a casa que terão a administrar. Suas dificuldades são maiores que em Itu. O odor fétido que reina na casa, unido à extrema sujeira das salas e das enfermarias, e principalmente dos pobres doentes, oferecem a pior impressão. Percorrendo as dependências, vê Madre Teodora a necessidade inadiável de tudo reformar. Quantas suscetibilidades iria ferir, quantos mal entendimentos provocar, quantas antipatias atrair, para poder levar a cabo o seu intento? Acostumados a explorar a dor e a miséria humana, revoltar-se-iam muitos, ao ver aqueles anjos da caridade terminar suas audaciosas sinecuras, ao ter de se sujeitar a novas ordens, prejudiciais aos seus interesses corruptos…

Madre Maria Felicidade, na França, fica sabendo que as Irmãs terão, nessa nova casa, dificuldades de todo gênero, mas certa do bem que poderão fazer em favor das almas, e sabedora de que, no Patrocínio, há alguém que se volta para Deus, expondo-lhe todos os seus planos e dificuldades, aceita confiante a missão que o Barão de Iguape oferece à sua Congregação. Envia para São Paulo mais cinco heroínas. São cinco gigantes do amor ao próximo, cinco jovens dóceis e dispostas ao bem, custe o que custar!

A superiora, Madre Arsenia, sob aspecto um pouco rude, esconde ótimas qualidades. Em pouco tempo a Providência Divina recompensa os sacrifícios das Irmãs. Ao lado das numerosas dificuldades que encontram, vem-lhes em apoio a benemerência de Dona Veridiana da Silva Prado, filha do Barão de Iguape, que se dedica aos interesses do hospital com se fossem seus próprios e, traduzindo em atos de sua grande afeição às religiosas, procura ajudá-las até mesmo nos afazeres domésticos. A prece e a mortificação das cinco francesinhas atraem o favor divino.

A força de trabalho, oração e penitência, transforma-se a Santa Casa. A rouparia enche-se de roupa branca perfeitamente limpa, a casa inteira respira asseio e higiene, a ordem e a economia reinam no estabelecimento. As Irmãs, não contentes de prodigalizar noite e dia seus cuidados aos enfermos, cuidam também de suas refeições. Os médicos, copiando-lhes o exemplo, atendem com maior interesse e regularidade os pobres internados. Nosso Senhor, o médico divino dos corpos e das almas vem habitar naquele nosocômio. De manhã, de todos os corações, sobem preces ao Rei das Dores, suplicando alívio e conforto. Os capelães, alheios a canseiras e comodismos, ensinam o catecismo, recitam os ofícios divinos, e, na hora extrema, são os anjos tutelares a abrir a porta do céu aos moribundos, fechando-lhes os olhos para as misérias desta terra e fazendo desabrochar em suas almas a esperança de uma eternidade feliz…

22 de junho de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti

 Acervo – Museu da Música – Itu