Antonio Candido Rocha, inteirado do trabalho eficiente das Irmãs de Itu, anima-se a resolver o problema, recorrendo à Superiora, para as providências necessárias. É empenho de seu governo reformar o Seminário das Educandas, e para essa tarefa gigantesca não hesita em convidar Madre Teodora a assumir a direção de tudo. Faz votar uma lei pela Assembleia dos Deputados, passando às Irmãs de São José a administração interna do Orfanato e, imediatamente, por intermédio do Padre Eugênio de Rumilly, enceta as negociações com o Patrocínio.
Madre Teodora recebe com alegria esta nova prova das bênçãos de Deus sobre os seus trabalhos. Torna-se aflita, porém, ao saber do prazo em que deve dar a sua palavra final. Religiosa obediente e dócil, saber perfeitamente que a resolução de tal importância só pode ser tomada, ouvida a decisão da Madre Geral. A França é tão longe! As comunicações tão difíceis, principalmente na época de guerra que ensanguentava o solo europeu. Que fazer? Arriscar-se a usar de direitos que só competem a Madre Maria Felicidade: perder a oportunidade de ramificar a Missão brasileira, dar novas almas a Deus? Espalhar pela terra dadivosa a boa seiva fecundante do amor a Jesus? Não lhe enviará o céu a inspiração decisiva? Sim. Atento, Alguém vela pelo barco, e tal como outrora, nos mares agitados da Galileia, afasta a onda tempestuosa da indecisão… Recorre o Padre Eugênio às suas prerrogativas de superior da Ordem no Brasil, e apoiando-se em tal direito, quebra a última resistência de Madre Teodora. O seu argumento “sou religiosa, logo, não posso tomar tão grave determinação sem licença expressa de minha Superiora Geral” desaparece, para só ver diante de si a obediência, mola mestra de sua vida…
Com lágrimas nos olhos por ter de assumir compromisso que, sua submissão, e sua humildade sabem ser da alçada de outra, após sua assinatura no final de vinte e três cláusulas, pelas quais a direção da casa passa a ser de responsabilidade de suas Irmãs de hábito.
Apressa-se em transmitir à sua Superiora o relato de tudo: “Achei-me no maior dos embaraços, nada querendo fazer contra sua vontade – diz ela. Sendo-me impossível consultá-la, não sabia o que resolver. De um lado, a glória de Deus e a salvação das pobres crianças da cidade que não têm ninguém que lhes dê educação cristã, me levavam a ceder; de outro, compreendia muito bem que coisas desta importância não são de minhas atribuições, e que uma pobre Irmã como eu, não deve arrogar os direitos de uma Superiora Geral.” “No momento não se trata senão de um orfanato, mas não deixa de ser uma porta de ingresso para muito mais.”
Padre Eugênio também não retarda sua comunicação à casa mãe, em França: “Devo antes de mais nada vos advertir que houve algo de irregular no meu modo de agir e que Irmã Teodora não se prestou a isso senão chorando; mas estou certo que ao conhecerdes minhas razões, me aprovareis…”

15 de junho de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu