A religiosa é também uma mãe (2)
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Prudência, reserva, tanto, delicadeza de sentimentos, qualidades que Deus parece reservar em alto grau às mães, são outros tantos apanágios de Madre Teodora. Quando é necessário, corrige com severidade, mas logo, ao sentir o arrependimento da filha faltosa, reserva-lhe o sorriso bondoso do perdão materno.

“Sonde o fundo do seu coração, minha filha, sonde-lhe os refolhos. Verá que abismo de orgulho, de amor próprio, de apego à vontade etc., minha filha nele descobrirá.” E ao vê-la contrita: “Agradeça a Nosso Senhor minha filha, que lhe abriu os olhos da alma, fê-la reconhecer suas misérias e lhe dá boa vontade para se corrigir.”

Palpitante de amor para com as almas entregues ao seu cuidado, não descura as providências para que em todas as coisas da província reine o mesmo ambiente de cordialidade e alegria que no Patrocínio. Conselhos e recomendações têm por fim excitar nas almas das Superioras os mesmos afetos maternais que sente transbordar de seu coração.

“Sejam mães para as alunas. Sejam boas para com todas. Sejam sobretudo boas para com as de mau gênio. Nunca as desanimem, reconheçam seus menores esforços, testemunhem-lhes afeição. Lembrem-se que, para fazer o bem, precisam amar e ser amadas. Esforcem-se por lhes desenvolver a inteligência por meio das frequentes lições de coisas e leituras explicadas, que minhas filhas terão o cuidado de previamente preparar.”

Seu instinto maternal leva-a à criação de um orfanato, logo nos primeiros anos do Brasil. Nessa colmeia abençoada tantas almas encontraram um abrigo seguro, o conforto de um lar, o escudo admirável com que se defenderam da perfídia do mundo, salvaguardaram sua pureza e inocência…

Mas há ainda alguém, a quem Madre Teodora reserva, no seu afeto, um lugar de grande predileção. São os deserdados de amor, essas criaturinhas inocentes, estigmatizadas com o ferrete da filiação ilegítima. São os renegados, os desgraçados sem nome, o fruto ilícito de amores clandestinos… A esses infelizes, lançados por mães sem entranhas à “roda” de uma casa de expostos, Madre Teodora ensinará o nome de um Pai, que os reconhece como filhos diletos e lhes dá direito a herdeiros de um rico domínio – o Céu, e lhes dará uma mãe, a Virgem Imaculada, que nunca os abandonará!…

Terão também, dali por diante uma mãe terrena, a querida Notre Mére de Itu, que em suas visitas regulamentares, lhes levará guloseimas, frutas, biscoitos, sempre recebidos entre expansões de júbilo pela criançada.

O anjo do Patrocínio, no dize dos que a conhecem, é de fato para todos a segunda mãe, dedicada e boa, que só pensa no bem estar dos que a procuram. Vem-lhe à mente a necessidade de um pavilhão para abrigar as Irmãs envelhecidas pela idade, ou pelo trabalho, ou pela doença. Adquire para isso a propriedade do coronel Ladislau Araújo Cintra, vizinha ao Colégio, e ali constrói uma vivenda agradável, onde, longe do bulício da meninada, essas obreiras do bem encontram o repouso merecido às suas lides na seara do Senhor.

Fibra por fibra Madre Teodora desdobra seu coração, e numa fecundação maravilhosa, chega ao fim de sua jornada, coroada com o diadema esplendoroso de uma maternidade radiante, concretizada nessas milhares de esposas amantes e fieis ao Divino Esposo, nessas mães carinhosas, orgulho de uma pátria agradecida, mães, diante das quais, de joelhos, depositamos nossa alma nesta festa de amor e bondade.

11 de maio de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu