Papa Francisco: o amor dá sentido aos mandamentos, vai além da formalidade da Lei

O Papa rezou a oração do Angelus deste domingo (12/02), 6º Domingo do Tempo Comum, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro. Na alocução que precedeu a oração mariana, o Santo Padre ateve-se ao Evangelho do dia.
No Evangelho da liturgia de hoje Jesus diz: “Não penseis que vim para abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”. Francisco explicou:
Dar cumprimento: esta é uma palavra-chave para entender Jesus e sua mensagem. O que isso significa? O Senhor começa por dizer o que não é cumprimento. A Escritura diz “não matarás”, mas para Jesus isto não é suficiente se depois se ferem os irmãos com as palavras; a Escritura diz “não cometerás adultério”, mas isto não é suficiente se depois se vive um amor manchado por duplicidade e falsidade; a Escritura diz “não jurarás falsamente”, mas não é suficiente fazer um juramento solene se depois se age com hipocrisia. Assim, não há cumprimento.
Gratuidade do amor de Deus, que nos ama por primeiro
Para nos dar um exemplo concreto, Jesus se concentra no “rito da oferenda”. Ao fazer uma oferenda a Deus, se retribuía a gratuidade de seus dons; era um rito muito importante, tanto que era proibido interrompê-lo, exceto por motivos graves. Mas Jesus afirma que é preciso interrompê-lo se um irmão tem algo contra nós, a fim de ir primeiro reconciliar-se com ele: só então o rito se cumpre. A mensagem é clara, acrescentou:
Deus nos ama primeiro, gratuitamente, dando o primeiro passo em direção a nós sem que o mereçamos; e então não podemos celebrar seu amor sem, por nossa vez, dar o primeiro passo para nos reconciliarmos com quem nos feriu. Assim, há cumprimento aos olhos de Deus, caso contrário, a observância externa, puramente ritual, é inútil. Em outras palavras, Jesus nos faz compreender que as normas religiosas são úteis, são boas, mas são apenas o começo: para dar-lhes cumprimento, é necessário ir além da letra e viver seu significado. Os mandamentos que Deus nos deu não devem ser trancafiados nos cofres asfixiantes da observância formal, caso contrário, permanecemos em uma religiosidade exterior e distante, servos de um “deus patrão” e não filhos de Deus Pai.
O Pontífice ressaltou que este problema não existia apenas no tempo de Jesus, ele também está presente hoje.
Às vezes, por exemplo, ouvimos: “Padre, eu não matei, não roubei, não fiz mal a ninguém… “, como se dissesse: “Eu estou bem”. Aí está a observância formal, que se contenta com o mínimo indispensável, enquanto Jesus nos convida ao máximo possível. Lembremo-nos: Deus não raciocina por cálculos e tabelas; Ele nos ama como um enamorado: não ao mínimo, mas ao máximo! Ele não nos diz: “Eu te amo até um certo ponto”. Não, o amor verdadeiro nunca é até um certo ponto e nunca se dá por satisfeito; o amor vai além, não pode passar sem ele. O Senhor nos mostrou isto dando sua vida na cruz e perdoando seus assassinos. E ele nos confiou o mandamento que lhe é mais caro: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou. Este é o amor que dá cumprimento à Lei, à fé, à vida!
A Virgem Maria nos ajude a cumprir nossa fé e nossa caridade
A este ponto, o Santo Padre questionou:
Como eu vivo a fé? É uma questão de cálculos, de formalismos, ou é um caso de amor com Deus? Estou satisfeito por não fazer o mal, por manter a “fachada”, ou tento crescer no amor por Deus e pelos outros? E, de vez em quando, eu me pergunto sobre o grande mandamento de Jesus, me pergunto se amo meu próximo como Ele me ama? Pois talvez sejamos inflexíveis no julgamento aos outros e nos esqueçamos de ser misericordiosos, como Deus é conosco.
Francisco concluiu pedindo à Virgem Maria, que observou perfeitamente a Palavra de Deus, que Ela nos ajude a cumprir nossa fé e nossa caridade.
Orações pelo bispo condenado na Nicarágua e pelos que sofrem na Turquia, na Síria e na Ucrânia
Em suas saudações após o Angelus, Francisco expressou tristeza pelas notícias provenientes da Nicarágua, onde o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, foi condenado a 26 anos de prisão:
Não posso deixar de lembrar com preocupação o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, de quem gosto muito, condenado a 26 anos de prisão, e também as pessoas que foram deportadas para os EUA. Rezo por eles e por todos aqueles que sofrem naquela querida nação. E peço-vos vossas orações. Peçamos também ao Senhor, por intercessão da Imaculada Virgem Maria, que abra os corações dos responsáveis políticos e de todos os cidadãos à busca sincera da paz, que nasce da verdade, da justiça, da liberdade e do amor e que é alcançada através do paciente exercício do diálogo.
O Papa também fez um apelo para não esquecermos os povos da Síria e da Turquia, atingidos pelo terremoto devastador, e os habitantes da Ucrânia, ainda vítimas do conflito sangrento:
Continuemos próximos, com a oração e o apoio concreto, das populações vítimas do terremoto na Síria e na Turquia. Eu estava vendo as fotografias desta catástrofe, esta dor destes povos que sofrem com o terremoto. Oremos por eles, não os esqueçamos, oremos e pensemos no que podemos fazer por eles. E não esqueçamos a atormentada Ucrânia: que o Senhor abra caminhos de paz e dê aos responsáveis a coragem de percorrê-los.
(Fonte: Vatican News)