Chega ao Brasil o novo missionário

Em dezembro de 1865 o padre Taddei aportou no Rio de Janeiro, vindo da Itália, com destino ao interior de São Paulo. Vinha fundar um colégio para meninos. Com outros companheiros, Padre Onorati, Irmão De Amicis e o estudante José Giomini, estava a caminho de Itu, promissora cidade, enriquecida com a produção de café, açúcar e algodão. Já havia ali um belo colégio para meninas, das Irmãs de São José de Chambery (França). Aliás, foi o capelão delas, Padre Goud, quem convenceu o Visitador jesuíta a trazer padres a Itu.
O grupo passou por empoeiradas estradas, sobre lombos de cavalos até atingir a cidade, cercada por dezenas de fazendas. Encontraram belas igrejas e dois conventos desativados. O povo os recebeu bem; os padres perceberam que as pessoas eram devotas, mas a sua religiosidade era só festiva, como em todo o Brasil. Os fiéis frequentavam missas e novenas, ouviam a bela música sacra e os sermões, usavam opas das Irmandades, mas a confissão e a comunhão somente na Páscoa. Isso chamou a atenção dos missionários; sentiram que a sua atuação também seria importante no trabalho pastoral.
Instalados no velho convento franciscano, o padre Taddei e seus companheiros conheceram o padre Miguel Correa Pacheco, pároco da cidade, santo homem, que pagara as despesas da viagem deles porque sabia dos benefícios de um colégio católico.
Antes do Natal, os padres começaram a dar o catecismo às crianças, ao qual compareciam adultos, maioria curiosa para ver os padres italianos que falavam mal o português, mas traziam narrativas interessantes, que tocavam as pessoas com a pregação. O povo não faltava, ganhava santinhos, ouvia a história sagrada, a vida dos santos da Igreja; logo ficou devoto de São Luís Gonzaga, padroeiro da juventude, que morreu moço atendendo os doentes de uma epidemia em Roma.
Os padres começaram a ouvir confissões. Gente que havia anos não se reconciliava com Deus ajoelhou-se e abriu o coração. Centenas acorriam à pequena igreja conventual, que não foi suficiente; os padres precisaram mudar os encontros e as celebrações para a igreja da Ordem Terceira Franciscana, um pouco maior. Foi nascendo assim uma simpatia geral sobre o padre Taddei.
Os jesuítas não podiam misturar os negros escravizados e brancos, porque estes se ofendiam; contrariado, Taddei criou uma aula de catecismo à noite, para que os negros pudessem ouvir as suas palavras de esperança e participar do Reino de Deus, mesmo excluídos na sociedade. Assim foram os primeiros meses.
No vai e vem das lides espirituais, entusiasmado com a salvação do povo, Taddei não reparara completamente na igreja do largo vizinho ao convento. Prestou melhor atenção ao templo dedicado ao Senhor Bom Jesus. No teto, sobre o altar, a pintura trazia a imagem do Coração de Cristo espargindo raios de bênçãos sobre santos da Igreja. Certamente um sinal de que ali, o reinado de Jesus poderia ter um lugar especial. Animou-se!
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”