Redes Sociais e ampliação da democracia
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Possibilidade de superação da ‘consciência ingênua’

Ao longo deste ano, venho aprofundando os temas das redes sociais e da democracia. Apesar das conquistas democráticas alcançadas, é imprescindível refletirmos sobre sua ampliação a partir da articulação desses dois temas. Recentes transformações da comunicação virtual incidem sobre a transmissão das informações e a formação da consciência. Alastra-se, em certos setores das redes sociais, o que alguns filósofos definem como ‘consciência ingênua’.

A cultura virtual ainda está em construção, tendo inovado pela multiplicação de textos curtos, manifestações afetivas, imagens e formas de linguagem da juventude. Para desenvolver-se, ela precisaria, entretanto, superar o predomínio da ‘consciência ingênua’ pela implantação de uma ‘consciência crítica’, aprimorando a formação humana, reflexão social e política. Descobri a relação destas formas de consciência e a formação política estudando com o eminente filósofo Álvaro Vieira Pinto, no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), em meados do século XX.A sociedade atual é diversa daquela na qual me formei. As redes sociais ajudaram a diminuir a força de influência dos grandes veículos de informação, dos quais não podemos prescindir. As redes ampliam possibilidades de manifestação e escrita pessoal, mas dificultam o aprofundamento do pensamento e favorecem a manipulação das consciências.

Não são locais destinados a este aprofundamento e ao aprimoramento da linguagem. Leituras, cliques e relacionamentos se sucedem rapidamente e são logo substituídos por novas postagens e informações. Assim sendo, as pessoas são arrastadas por sucessivas ondas que apagam o rastro das escritas nas areias das praias do mundo virtual.

Dessa maneira, suas conclusões são limitadas pelas condições do ambiente e não alçam voos muito além do alcance do olhar. Suas visões de mundo se estreitam e tornam-se prisioneiras das ideologias e rótulos, não enxergando muito além deles. As impressões acompanham a cintilação dos cliques, que se sucedem num processo de percepções sem fundamentação e conexão com o pensamento lógico.

Tais características correspondem à ‘consciência ingênua’, cujos limites podem ser ultrapassados. Ela é marcada pela subjetividade e reprodução automática de julgamentos imediatos sobre fatos isolados, facilmente generalizados e sem universalidade de visão. Este tipo de consciência não desenvolve a atitude reflexiva e analítica, a partir da qual se busca elucidar o sentido e significado dos acontecimentos.

Este modo de funcionamento prejudica a compreensão e prática política, tendo graves consequências para a democracia e exercício da cidadania. A falta de formação abre as portas para comportamentos influenciáveis e conclusões superficiais. Uma formação política democrática pode contribuir para romper com as amarras da ‘consciência ingênua’ e o fechamento das ‘bolhas’ sociais, dando um novo impulso à comunicação pelas redes.

Os obstáculos para modificar tal situação são inúmeros. Não adianta nadar contra a correnteza, responsabilizar o avanço tecnológico ou negar suas importantes contribuições. A comunicação é inerente à estrutura humana, apenas precisamos desenvolvê-la. Já nascemos interiormente relacionados em redes, com base na integração trinitária de nossa estrutura física, mental e espiritual. Este conhecimento é um instigante mistério. Por isso, eu aludo a esta estrutura humana triangular pelo símbolo das três esfinges, cujos enigmas cientistas, filósofos e teólogos pesquisam, tentando decifrá-las.