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Em uma mensagem, publicada no último dia 29 de julho, a Igreja no Haiti expressa sua crescente preocupação pela “degeneração geral da situação no país, onde o povo continua a sofrer tanto”. Semana passada foi marcada, de modo particular, pela violência na capital Porto Príncipe, onde gangues armadas chegaram até a causar danos na catedral.

“Ó Deus, incendiaram o vosso santuário… Invadiram a vossa propriedade… Profanaram o vosso santo Templo, morada do vosso Nome”! Com estas palavras deste Salmo, os bispos da pequena ilha caribenha chamam a atenção para a situação social, que entrou em uma espiral sistemática de caos. Situado no centro de combates das gangues, o edifício de Nossa Senhora da Assunção, catedral de “transição” de Porto Príncipe, foi gravemente prejudicada, na quarta-feira, 27 de julho, por um “incêndio de origem criminosa”, que o Corpo de Bombeiros conseguiu deter e salvar o lugar sagrado.

Os bispos da conturbada ilha caribenha voltam a dar alarme, denunciando, sem cessar, o silêncio e a cumplicidade: “Muitas vezes, levantamos nossa voz para chamar a atenção dos filhos desta pátria comum, alertando-os para tomar consciência sobre as grandes questões que nos desafiam diariamente. Além disso, o medo levou alguns a mergulhar em um profundo torpor, enquanto outros continuam a ser cúmplices das desgraças do nosso povo: corrupção, pobreza extrema, insegurança generalizada, sequestros e desconfiança pessoal são alguns dos males que se acrescentam à violência sistemática das gangues armadas, que declaram guerra por todo o território haitiano”.

Sentimentos de tristeza e revolta

Nos últimos dias, o centro da capital Porto Príncipe foi palco de violentos confrontos entre gangues criminosas armadas, que causaram inúmeras vítimas entre a população civil assediada: “Parece que até a polícia se sente impotente”, afirma o episcopado do Haiti.

Ao constatar, com “profunda tristeza e sentimento interior de revolta a degeneração, aceita e causada, da situação do país, que parece descer para o inferno”, a Conferência Episcopal do Haiti expressa seu temor e indignação pela impotência das autoridades do Estado, que, desta forma, “abre alas para que as gangues, fortemente armadas, realizem todos os seus atos premeditados com total impunidade”.

Por que o Estado haitiano não age?

Em sua mensagem, os bispos fazem sua triste constatação: “Estas gangues sequestram, insultam, destroem, matam, incendeiam e desafiam os poderes constituídos, que parecem totalmente inermes”. E se perguntam: “Por que o Estado não age para reprimir, com o devido rigor e justiça, e expulsar os bandidos? Por que não conseguem acabar com as fontes dos fornecedores de armas e munições a grupos e indivíduos, beneficiando as pessoas intocáveis”?

Os bispos acrescentam ainda: “Enquanto os autores de violências, aos quais nunca faltam recursos e espalham terror entre o povo, os policiais nacionais parecem permanecer inermes, sem cumprir sua missão com eficácia. Logo, é impossível investir, com serenidade, em um clima de insegurança generalizada, enquanto um número significativo de pessoas foge do país, sobretudo jovens, que, sem saber a quem recorrer, diante da grande instabilidade, não sabem como se salvar senão em outros lugares”.

Restabelecer a autoridade e deter o fluxo de armas

O episcopado haitiano observa ainda em sua mensagem: “O Estado de direito passou por um momento de grande decepção; todas as instituições reais não funcionam. As áreas, sem lei, estão se proliferando e a violência tende a ser constante e sistemática. Os âmbitos, onde reina a ladroagem, fogem totalmente do controlo das autoridades públicas e ameaçam o princípio da indivisibilidade do território, sancionado pela Constituição”.

Os bispos haitianos pedem, com veemência, o restabelecimento da autoridade do Estado para que haja “um clima de renovação e paz no país”; pedem também uma “ação imediata para deter o desarmamento das gangues e permitir que a polícia nacional realize suas operações contra os autores da violência armada ou da insegurança, em plena liberdade e igualdade de tratamento, a fim de criar um clima de serenidade e confiança”. A Igreja haitiana solicita, enfim, que seja impedida a entrada pelas fronteiras de munições no país e que sejam presos e julgados os autores, patrocinadores e promotores de atos que violem a lei.

“É hora de acordar do torpor”

A Igreja no Haiti faz ainda um premente apelo: “Chegou a hora de acordar do nosso torpor e dizer com todas as nossas forças: ‘não à insegurança, não aos sequestros, não à legalização, através da cumplicidade, das atividades de quadrilhas armadas; não aos planos de destruição do Estado, que facilitem programas contra a população, a quem esta terra foi deixada como herança”!

Os bispos da Conferência Episcopal do Haiti concluem sua mensagem, fazendo referência aos vis ataques à catedral: “A Igreja Católica, em todos os níveis, protesta contra os contínuos ataques desprezíveis e chocantes feitos contra a Catedral, que nos ferem profundamente. Neste momento trágico da história do nosso querido país, precisamos rezar com fé, para que Deus onipotente possa intervir e a Bem-Aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro nos cubra com sua proteção. Por fim, convidamos todos os fiéis para que rezem com confiança e sem cessar ao Senhor, pela libertação do Haiti”.