Catequese 07 – “Com licença, obrigado, desculpe”
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“Estas palavras [com licença, obrigado, desculpe] realmente abrem o caminho para viver bem na família, para viver em paz. Trata-se de palavras simples, mas não tão fáceis de pôr em prática! Elas encerram em si uma grande força: o vigor de proteger o lar, até no meio de inúmeras dificuldades e provações; ao contrário, a sua falta gradualmente abre fendas que até o podem fazer ruir” (Papa Francisco, 13/05/2015).

Como nos mostra a experiência, a vida de cada família não é caracterizada somente de momentos belos e luminosos. Com efeito, é frequente que as dificuldades e provas da vida e da história tornem escuros e difíceis os percursos das famílias. Às vezes são dificuldades na convivência, às vezes porque as relações não são sempre fáceis e serenas, às vezes porque o relacionamento do casal atravessa momentos de resignação e frustração e a relação entre cônjuges é marcada por “mil formas de prevaricação e de subjugação, de sedução enganadora e de prepotência humilhante, até as mais dramáticas e violentas” (Papa Francisco, 22/04/2015).

A meta que leva à plenitude do Amor requer um caminhar lento, gradual, não raramente cansativo e exigente, e que prevê um crescimento onde a cada dia se deve acolher, humildemente e com perseverança, a graça de Cristo. Esta graça, já invocada pelos cônjuges no dia do casamento como elemento especial da sua união, é o principal apoio dos esposos. Só com a ajuda de Cristo consegue-se amar plenamente, renunciar a pretensões contínuas, recusar a ambição de controlar cada aspecto da realidade, abandonar o desejo de dominar a vida dos outros. Só Ele tem o poder de “dar um coração novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem, como Cristo nos amou” (cf. FC 13). Com efeito, faz parte da natureza do Amor (Cristo) o ir além de si mesmo, o amar o outro com todos os seus limites e no respeito da liberdade dele.

Não podemos viver sozinhos

É algo fundamental em todas as relações humanas, ainda mais nas famílias: nenhum de nós basta a si mesmo. Nascemos numa condição de fragilidade tal que precisamos constantemente sermos apoiados no combate contra o nosso ego, que tem dificuldade em dar-se e reconhecer os seus defeitos.

Apropriando-se destas três palavras – com licença, obrigado, desculpa – cada membro da família está em condições de reconhecer o seu próprio limite. Reconhecer as suas fraquezas leva cada um a não se impor ao outro, mas a respeitá-lo e a não o querer possuir.

Com licença, obrigado e desculpa são três palavras muito simples que nos levam a dar passos muito concretos no caminho da santidade e no crescimento do amor. Eram, além disso, palavras típicas do estilo de Jesus, que pede permissão para entrar – “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (cf. Ap 3, 20) –, que agradece continuamente ao Pai, que ensina a orar dizendo: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt 6, 10).

Aceitar o não bastar a si mesmo e dar espaço ao outro é o caminho para viver não só o amor em família, mas também a experiência da fé.

As feridas do amor

Na vida de cada pessoa, além disso, não faltam as feridas do amor. Mesmo em família pode ser que palavras, atos ou omissões tenham profundamente mortificado o amor.

Em geral, trata-se de atitudes ou comportamentos que se criam entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre tios e tias, entre avós e netos, e que, em vez de demonstrar amor, podem feri-lo ou até matá-lo.

Temos de dizer também que existem algumas feridas, como a doença e o luto, que escapam ao nosso controle, deixando-nos impotentes e, em geral, profundamente perturbados.

São experiências que às vezes parecem contradizer as promessas de Deus e desmentir o Seu Amor infinito e eterno. Estas, porém, vividas na fé e na abertura ao outro, constituem outras tantas ocasiões para sentirmo-nos amados e curados por Deus e pelos outros, e objetos da atenção deles.

Com frequência, são momentos difíceis e dolorosos, mas que se revelam também períodos propícios e privilegiados, nos quais o Senhor vem visitar-nos, porque “o amor de Jesus consistia em dar a saúde, em fazer o bem: e isto vem sempre em primeiro lugar!” (Papa Francisco, 10/06/2015).

Ajudar e ser ajudado

Cada uma dessas experiências duras, difíceis e dolorosas tornam-se o lugar concreto do nosso caminho de santidade; ocasiões que não nos impedem de amar apesar de tudo e de permanecer no Seu amor.

Mas sem presunções: a fragilidade e as dificuldades da existência estão arraigadas na vida e não permitem passagens fáceis e rápidas a soluções mágicas ou irreais. Temos necessidade de ser ajudados e de ajudar.

No meio dessa dureza, o Espírito Santo acompanha-nos e, tantas vezes, graças aos nossos parentes, aos nossos amigos, às pessoas que nos manifestam amor: quando vemos o amor perdurar, isto já é o início da esperança, e faz-nos desejar que o próprio Senhor se manifeste como o Amor de que mais necessitamos.

“Grava-me como um selo em teu coração, como um selo em teu braço; pois o amor é forte, é como a morte! Cruel como o abismo é a paixão; suas chamas são chamas de fogo, uma faísca do Senhor! As águas da torrente jamais poderão apagar o amor, nem os rios afogá-lo” (Ct 8, 6-7).

A fé e a caridade do Evangelho não são garantias de uma vida segura, nem nos preservam do sofrimento e da dor que caracterizam a existência humana. Não garantem uma imunidade contra o mal ou a dificuldade. Em vez disso, são como uma luz que ilumina a nossa vida nos momentos de trevas e aflição. Portanto, mesmo as situações mais dolorosas e tristes, vividas em união com Cristo Jesus, podem-se tornar momentos para cultivar relações entre nós, para crescer na fé em Deus, na certeza de que todo e cada evento da nossa vida encerra em si preciosos tesouros de Graça.

Sugestões de reflexão em casal/família

• Pensemos em exemplos onde podemos aprender a dizer nas nossas famílias: “Com licença”, “Obrigado”, “Desculpe”.
• Em que ocasiões, hoje, eu disse “com licença”, “obrigado”, “desculpe”?

Sugestões de reflexão dentro da comunidade

• Conseguimos dizer-nos “com licença”, “obrigado”, “desculpe” na nossa comunidade, nas nossas relações?

Vídeo 7: “Crescer no amor”

A importância da vida em comunidade no apoio às famílias, às crianças e aos jovens é o tema deste sétimo vídeo, que mostra a experiência de uma paróquia na periferia de Roma.

Para aprofundar

Papa Francisco – Audiência Geral – 13/05/2015

Papa Francisco – Audiência Geral – 22/04/2015

Papa Francisco – Audiência Geral – 10/06/2015