Como é triste quando povos cristãos pensam em fazer guerra entre si
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Jesus nos convida a refletir sobre o nosso olhar e o nosso falar. O olhar e o falar. Em primeiro lugar, sobre o nosso olhar. O risco que corremos, diz o Senhor, é concentrar-nos a olhar o cisco no olho do irmão, sem nos darmos conta da trave no nosso (cf. Lc 6, 41). Em síntese, estar muito atentos aos defeitos dos outros, até aos pequenos como um cisco, ignorando tranquilamente os nossos, dando pouca importância. É verdade o que Jesus diz: encontramos sempre motivos para dar a culpa aos outros e para nos justificarmos a nós próprios. E muitas vezes queixamo-nos de coisas que não funcionam na sociedade, na Igreja, no mundo, sem antes nos questionarmos e sem nos comprometermos a mudar primeiro a nós mesmos. Cada mudança fecunda, positiva, deve começar por nós próprios. Caso contrário, não haverá mudança. Mas — explica Jesus — agindo assim, o nosso olhar é cego. E se formos cegos, não podemos pretender ser guias e mestres para os outros: com efeito, um cego não pode guiar outro cego (cf. v. 39).
Estimados irmãos e irmãs, o Senhor nos convida a limpar o nosso olhar. Em primeiro lugar, nos pede que olhemos para dentro de nós mesmos, para reconhecer as nossas misérias. Pois se não conseguirmos ver os nossos próprios defeitos, estaremos sempre prontos a aumentar os dos outros. Ao contrário, se reconhecermos os nossos erros e as nossas misérias, abrir-se-á para nós a porta da misericórdia. E depois de ter olhado para dentro de nós, Jesus convida-nos a olhar para os outros como Ele faz — eis o segredo: olhar para os outros como faz Ele — Ele que não vê primeiro o mal, mas o bem. Deus olha para nós assim: não vê em nós erros irremediáveis, mas sim filhos que cometem erros. Muda a ótica: não se concentra nos erros, mas nos filhos que cometem erros. Deus distingue sempre a pessoa dos seus erros. Salva sempre a pessoa! Acredita sempre na pessoa e está sempre pronto a perdoar os erros. Sabemos que Deus perdoa sempre. E nos convida a fazer o mesmo: a não procurar o mal nos outros, mas o bem.
Depois do olhar, hoje Jesus nos convida a refletir sobre o nosso falar. O Senhor explica que a boca «fala daquilo de que o coração está cheio» (v. 45). É verdade, do nosso modo de falar, se vê imediatamente o que há no coração. As palavras que usamos falam da pessoa que somos. Mas às vezes prestamos pouca atenção às nossas palavras, usando-as de maneira superficial. Mas as palavras têm um peso: permitem-nos manifestar pensamentos e sentimentos, dar voz aos temores que temos e aos projetos.
Mas infelizmente, com a língua podemos também alimentar preconceitos, levantar barreiras, agredir e até destruir; com a língua podemos destruir os irmãos: a bisbilhotice fere e a calúnia pode ser mais afiada do que uma faca! Hoje, especialmente no mundo digital, as palavras voam; mas demasiadas delas veiculam raiva e agressividade, alimentam notícias falsas e se aproveitam dos receios coletivos para propagar ideias distorcidas. Um diplomata, que foi Secretário-Geral das Nações Unidas e ganhou o prêmio Nobel da Paz, disse que «abusar da palavra equivale a desprezar o ser humano» (D. Hammarskjöld , Tracce di cammino , Magnano bi 1992, 131).
Então, perguntemo-nos que tipo de palavras usamos: palavras que manifestam atenção, respeito, compreensão, proximidade, compaixão, ou palavras que visam principalmente fazer nos mostrar melhores diante dos outros? E depois, falamos com mansidão ou poluímos o mundo propagando veneno: criticando, nos queixando, alimentando a agressividade generalizada?
Que Nossa Senhora, Maria, cuja humildade Deus contemplou, a Virgem do silêncio a quem agora rezamos, nos ajude a purificar o nosso olhar e o nosso falar.