Olavo de Carvalho (1947 – 2022)
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No último 24 de janeiro o Brasil perdeu uma de suas mentes mais brilhantes e admiráveis na atualidade. Olavo Luiz Pimentel de Carvalho faleceu aos 74 anos na região de Richmond, na Virgínia, Estados Unidos, onde residia desde 2005, deixando a esposa Roxane, oito filhos e 18 netos. Professor, filósofo, escritor, ensaísta e jornalista, Olavo de Carvalho nasceu em Campinas a 29 de abril de 1947. Autodidata, escreveu mais de 40 livros, mais de 44 cursos, milhares de artigos, protagonizou um filme e, durante 14 anos, ministrou semanalmente seu Curso Online de Filosofia, contabilizando mais de 570 aulas. Suas ideias ganharam protagonismo no debate público, pautando assuntos como conservadorismo, religião, filosofia e política.

A infância de Olavo foi pobre, no Glicério, região central de São Paulo, para onde se mudou aos dois anos. Após o pai se separar de sua mãe e logo morrer, quando ainda era adolescente, junto com o irmão cuidou da mãe que era operária da indústria gráfica. Mesmo num ambiente pouco propício ao estudo, desde muito novo começou a dedicar-se à alta leitura, sendo que com apenas 14 anos já havia lido a obra completa de Dostoievski, formando seu gosto pela grande literatura internacional. Precocemente interessado também por política, durante a década de 60 esteve filiado ao Partido Comunista, fez oposição o regime militar, mas logo abandonou o partido, quando chegou à conclusão que o socialismo não funcionava. Como ensaísta e jornalista, escreveu para a Folha de São Paulo, Bravo!, Planeta, Primeira Leitura, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Globo, Época, Zero Hora, Diário do Comércio, A Gazeta, Estado de São Paulo, entre outros. Como freelancer, trabalhou também para várias revistas. E publicou livros que se tornaram campeões de venda, mesmo após anos de lançamento, como é o caso de sua trilogia O jardim das aflições: de Epicuro à ressurreição de César – Ensaio sobre o materialismo e a religião civil (Editora Diadorim, 1995), considerado sua obra mais importante, O imbecil coletivo: atualidades inculturais brasileiras (Editora Cidade, 1996), e O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota (Record, 2013).

Mas creio que o maior legado deixado por Olavo de Carvalho foi a recuperação da direita brasileira, adormecida graças a décadas de sufocamento por parte da esquerda, dominante nos meios universitários, jornalísticos e artísticos do país. Olavo, graças a seus livros, cursos e palestras, despertou em milhares, sobretudo jovens, a consciência de lutar contra o politicamente correto e contra o marxismo cultural apregoado pelo italiano Antonio Gramsci, cujo objetivo é a implantação paulatina do socialismo na sociedade por meio da infiltração nos mais variados setores. Essa postura fez com que Carvalho, ao lado de Jair Bolsonaro, tenha sido uma das pessoas mais odiadas pela esquerda do Brasil. Uma parte porque ideológica mesmo e consciente de suas intenções; outra, bem maior, de pessoas doutrinadas ao longo de décadas e que, ou não têm discernimento intelectual para uma reflexão honesta sobre o tema, ou, num arroubo de vaidade, é incapaz de admitir que tudo que lhe foi dito até então não passa de uma estratégia cuidadosamente pensada para destruir a cultura ocidental, eminentemente cristã.

Fato é que Olavo de Carvalho, não obstante não gostasse de ser definido como o pai da direita brasileira, fez renascer e fortalecer esse sentimento na maior parte do povo brasileiro, essencialmente conservador, a ponto de, depois de décadas de hegemonia e alternância no poder de partidos de esquerda, fazê-lo eleger um presidente da república de direita, alinhado com valores cristãos, defensor da vida, da família, da infância e da liberdade. Mesmo os que dele nunca tenham ouvido falar certamente foram por ele influenciados, por seu cada vez maior número de alunos e seguidores que ocupam espaço na política e na mídia falada e escrita, a despeito da perseguição escancarada que lhes desfere os poderes Legislativo e sobretudo o Judiciário.

Também a Igreja e o Catolicismo muito devem a Olavo de Carvalho. São milhares os testemunhos de pessoas – mais uma vez sobretudo jovens – que começaram a ir à missa, a frequentar os sacramentos, a rezar o terço por causa dele. Enquanto a puritana mídia brasileira, defensora do assassinato de crianças no ventre materno e de doentes terminais, do divórcio, do homossexualismo e da ideologia de gênero, e de tantas outras bandeiras de destruição da família e da sociedade hierárquica, escandalizava-se com os palavrões que Olavo falava, a despeito desse mesmo linguajar “chulo” ele trazia pessoas de volta à Igreja de Cristo a ponto de o Pe. Paulo Ricardo, um dos maiores expoentes de ortodoxia católica no país hoje, assim se expressar: “Se com os palavrões ele [Olavo] está conseguindo acordar as pessoas e trazê-las de volta para a Igreja, bendito sejam os palavrões!”. É cada vez mais crescente o número de jovens que foram por ele apresentados – e passara a ler – desde a filósofos como Aristóteles e Platão, passando por Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, até chegar, em tempos mais atuais, a A.-D. Sertillanges, Gustavo Corção, Mário Ferreira dos Santos e Otto Maria Carpeaux.

Ao ler a sua obra, sem a qual ninguém está autorizado a refutá-lo, notadamente O imbecil coletivo, minha preferida, na qual previu a hegemonia que a esquerda tomaria na política brasileira e documentou o processo de decadência intelectual que estava acontecendo no Brasil, nos deparamos com uma lucidez, profundidade e articulação impressionantes, que fazem de Olavo de Carvalho um dos maiores nomes da intelectualidade brasileira recente e cujo legado certamente permanecerá por gerações. Porque “sapientiam autem non vincit malitia”.