Em um dia das férias escolares de 1903 chegava ao Colégio São Luís, em Itu, um carregamento de 14 caixotes de madeira “tendo dentro de cada qual deles um caixote de chumbo com os instrumentos das cinco partes da Física, mecânica, hidroestática, acústica, ótica e eletricidade. Todo material para um ensino perfeito.” Era o pedido que o mestre Giuseppe Danti fizera à Casa Leibhold, em Chemitz (Alemanha), através de um livreiro paulistano. O custo foi de vinte contos de réis, cerca de 40.000 liras que o reitor, padre Natuzzi, para melhoria do ensino da disciplina. Era um momento revolucionário para a educação no Colégio São Luís, muito centrada nas disciplinas de Humanidades. O maior internato do Brasil se aprimorava também nas ciências.
No ano anterior, faltando um professor adequado para a disciplina, foi trazido de Roma o jovem estudante de Filosofia que aceitou a empreitada para ampliar os seus conhecimentos na área, sobretudo porque considerava que bons filósofos devem conhecer a Física e notava que alguns postulados propostos por autores da área eram falhos justamente pela falta de conhecimento específico da Física.

Danti era natural de Sesto Fiorentino, na região da Toscana, próxima a Florença, nascido a 25 de novembro de 1875. Desde pequeno estudou no seminário com vistas ao sacerdócio. Em Roma foi colega de Eugênio Pacelli, que viria a ser o papa Pio XII e de Aloísio Masella futuro núncio apostólico no Brasil e cardeal da Igreja. Entrou para a Companhia de Jesus em 28 de outubro de 1896, após o reitor do Seminário em que estudava negar por três vezes a sua liberação, afinal não queria perder um aluno brilhante! Mergulhou na espiritualidade inaciana e veio ao Brasil como professor do São Luís em 1901, como ele mesmo relatou: “chegados a Itu nós dois, Padre Novais e eu, lembro-me, encontramos os alunos (…) perfilados no corredor da entrada. (…) Apenas chegamos e apeamos do carro que nos transportara da estação do colégio, começou a banda dos alunos um sinfonia solene e depois o belo discurso de um aluno que nos felicitava porque vínhamos trabalhar aí.”
Depois de cinco anos em Itu, voltou à Itália, completou os estudos e retornou para trabalhar em Friburgo. Em seguida foi reitor do Colégio São Luís, já instalado em São Paulo; nesse momento foi responsável pela construção da igreja e ampliação do prédio na Avenida Paulista. Lecionou Filosofia na nascente Faculdade “Sedes Sapientiae”, das Cônegas de Santo Agostinho, tendo como uma das alunas a ituana Maria Cecília Bispo.
Em 1946, depois de quarenta anos de atividade no Brasil, foi chamado a Roma. Viajou com os arcebispos de São Paulo e Rio de Janeiro que se tornariam cardeais. Dada a sua notável erudição, Danti passou a lecionar no prestigioso Colégio Pio Brasileiro, dos jesuítas.
Padre Giuseppe Danti faleceu em Roma a 7 de dezembro de 1974, quinze dias depois de completar 99 anos de vida.