Reflexões sobre um ano eleitoral

por Olga Sodré
O Brasil vaga como nau sem rumo: quais os valores e objetivos da nação?
O ano de 2022 promete ser animado pela dança eleitoral, por acirrados confrontos entre candidatos e multiplicação de promessas para conquistar eleitores. Mentiras deslavadas, apropriação indevida dos recursos e destruição do patrimônio público levam ao descrédito das ‘comédias políticas’ e das artimanhas na luta pelo poder. Generaliza-se assim a visão de que a política é corrompida. No entanto, não podemos ignorá-la, pois a superação das dificuldades e sofrimentos do povo brasileiro passa por ela.
Nossa participação é necessária para enfrentarmos destruições em várias áreas, agravamento dos problemas sociais, enfraquecimento das instituições e da democracia, buscando possíveis soluções e esclarecimentos sobre questões e projetos. É válido defender candidatos que possam contribuir para melhorar ou transformar as condições político-sociais. A escolha dos eleitores deve, entretanto, ser norteada pelo aprofundamento de uma reflexão conjunta a esse respeito. Por isso, proponho análises de determinadas questões – como as acima mencionadas, engajando-me com propostas e ações em benefício de nosso povo sem indicar candidatos ou partidos.
Face às polarizações políticas e à proliferação de informações direcionadas, dissemina-se a tendência a seguir conclusões já construídas, buscar leituras rápidas e a orientação dos grupos de referência. Numa época em que as opiniões são moldadas pelos diversos meios de comunicação e relacionamentos sociais, o exercício de uma reflexão que argumenta sem tentar influenciar as escolhas de candidatos destoa da tendência dominante.
Pode parecer ineficaz e até ingênuo supor que o leitor possa tirar suas conclusões com base em análises e tomar decisões sem ser para isso conduzido. De fato, nada do que se diga pode mudar as cabeças já moldadas e engessadas. Parece-me, contudo, fundamental estimular as pessoas a refletirem e escolherem por si próprias, mesmo correndo o risco de não ser ouvida.
Isto não quer dizer que eu tenha uma posição neutra. Porém, em minhas publicações, limito-me a apresentar reflexões apoiadas em pesquisas e experiências elaboradas à luz dos ensinamentos de Cristo, ‘Sol da Justiça’. Essa fundamentação nada tem a ver com o uso da religião por políticos que se dizem cristãos, mas usam palavras da Bíblia e argumentos morais para se elegerem, manipulando grupos religiosos, visitando igrejas e participando de suas solenidades em busca de votos. Tal postura demonstra um uso inadequado da mensagem cristã, da fé do povo e dos espaços sagrados. Cristo ilumina nosso conhecimento e a História sem estar subordinado à luta pelo poder.
Desde o Antigo Testamento, os profetas clamavam contra as injustiças sociais da época, a corrupção e o escárnio dos ricos e poderosos, que mantinham ouvidos surdos à Palavra de Deus, cegueira e dureza de coração diante da miséria dos pobres e dos sofrimentos da população. Ao longo de 2022, surgirão falsos profetas e enganadores do povo, usando palavras vazias desmentidas por suas ações e histórias de vida. Por isso, é importante esclarecer questões fundamentais como a da justiça social. Existem diferenças entre o anúncio das profecias e as recentes propostas a este respeito. Entender estas diferenças nos ajuda a esclarecer os rumos para a construção de um mundo novo.