Regis Duprat
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Um dos temas que tenho enorme interesse em estudar é a história da música brasileira, em especial, em Itu. O Museu da Música, ao qual estou ligado, reúne inúmeras cópias originais autógrafas de compositores de nossa terra.
O mais antigo, dos compositores conhecidos na história de Itu, é o padre Jesuíno do Monte Carmelo, santista que viveu em nossa terra a partir de 1786 até a sua morte, em 1819. Deixou cerca de vinte obras musicais, algumas ainda não reveladas em concerto. Porém dele, até hoje, nenhuma partitura autógrafa é conhecida; não sabemos como era a sua caligrafia musical…
Em 1945 foi publicado o último trabalho de pesquisa de Mário de Andrade, justamente sobre esse compositor; ele lamentava não ter conhecido a música do Jesuíno, a não ser o “Cântico da Verônica” ainda hoje executado em Itu, na Semana Santa.
Em 1968, porém, este importante acervo – nossa raiz sonora – foi descoberto em cópias de outros músicos fora de Itu: os arquivos Veríssimo da Glória (São Paulo), Manoel José Gomes (Campinas) e do Museu da Inconfidência (Ouro Preto). E isso tudo se deveu ao trabalho e interesse do Prof. Regis Duprat, infelizmente falecido no dia 19 de dezembro último, em São Paulo, aos 91 anos.
Natural do Rio de Janeiro, Duprat estudou música com Oliver Toni e Cláudio Santoro, e História na Universidade de São Paulo, tendo por orientadores a Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes. Esta formação em campos diferentes da cultura permitiu que se tornasse um especialista na musicologia, ramo do estudo pouco desenvolvido até então, no Brasil, basicamente pelo trabalho do alemão Francisco Curt Lange (1903 – 1997) em Minas Gerais.
As principais pesquisas de Duprat nesta área se encerram no livro “Garimpo Musical”, em que as descreve, inclusive os achados de Mogi das Cruzes, as mais antigas partituras musicais do Brasil, datadas de 1730. Porém seu objeto de maior interesse era a música de André da Silva Gomes (1752 – 1844), o português que foi Mestre de Capela na Sé de São Paulo e o principal professor do padre Jesuíno.
A edição das partituras do nosso Jesuíno foi feita pela Profa. Lenita Nogueira (UNICAMP), que estudou e trabalhou com Regis Duprat. Estes registros é que têm servido para o Coral Vozes de Itu executar, continuamente, esse patrimônio musical de nossa terra.
O Brasil muito deve ao Prof. Regis Duprat, não só pelas centenas de partituras antigas que ele nos revelou, pelas gravações que estimulou e dirigiu, pelas gerações de novos musicólogos que formou, mas, sobretudo por nos oferecer um passado musical.
A última vez que nos encontramos foi no evento de apresentação das pranchas com pinturas do Padre Jesuíno, que encontramos junto ao relógio da torre da igreja matriz. Pedi ao Regis e ele autografou o caderno de partituras do padre Jesuíno, que utilizo com o Coral. Fica como lembrança do legado extraordinário de um homem que realmente contribuiu para a construção da história brasileira e de Itu.