Mundo do futebol reverencia Pelé e celebra os 80 anos do Rei: “Incomparável”

Fifa posta vídeo em homenagem com depoimentos de ídolos sobre o maior de todos os tempos. Ronaldo, Rivaldo e Kaká parabenizam compatriota, e clubes estrangeiros registram a data.

Pelé completou 80 anos de vida na última sexta (23/10), e diversos personagens do futebol prestaram homenagens ao Rei nas primeiras horas de 23 de outubro, postando em suas redes sociais mensagens de felicitações ao maior de todos os tempos. No início do dia, a Fifa postou um vídeo com diversos depoimentos de ídolos internacionais.
Brasileiros que se consagraram internacionalmente, em especial os que foram eleitos como melhor do mundo, também reverenciaram o maior de todos. Ronaldo Fenômeno repostou a homenagem da Fifa com as hashtags #Pele80 e #ORei80. O pernambucano Rivaldo, lembrou que jamais seria penta se o aniversariante não fosse tri. Kaká mostrou todo seu orgulho de ser compatriota de quem “conquistou o trono por aclamação”.
Herdeiro da camisa 10 do Santos no início da carreira, Neymar primeiro compartilhou fotos do uniforme com dedicatória do amigo Edson pela conta de seu site oficial. Depois, no pessoal, agradeceu a Pelé por tudo que fez e fez uma saudação especial de vida longa ao Rei.
Dos astros internacionais, o camaronês Eto’o foi dos primeiros a reverenciar o Rei. Clubes estrangeiros prestaram suas homenagens ao Rei. Atual campeão europeu, o Bayern de Munique, postou foto de Pelé com o goleiro Kahn. Em sua conta em português, o Eintracht Frankfurt lembrou com orgulho de quando sofreu quatro gols em casa do ídolo brasileiro. O Manchester City fez uma montagem do camisa 10 com o uniforme azul da equipe.
Dentre outras coisas, Pelé é famoso principalmente por ter vencido três Copas do Mundo, o único atleta masculino ou feminino a fazê-lo, e marcando um recorde mundial de 1.281 gols em 1.363 jogos pelo clube e pela Seleção brasileira. Seu apelo transcende os esportes. Mas ainda hoje há histórias que muitos não conhecem de uma das pessoas mais famosas da história.
Pelé expulsa árbitro?

O Santos enfrentaria a seleção olímpica da Colômbia em amistoso em 18 de junho de 1968 em Bogotá. Um estádio lotado ficou atônito quando o árbitro Guillermo Velasquez disse a Pelé para deixar o campo (os cartões vermelhos só seriam introduzidos em 1970), depois que o brasileiro cometeu uma falta e, segundo Velázquez, o insultou. Então, uma confusão se armou: os jogadores do Santos cercaram furiosamente o árbitro e as fotos do jogo mostram Velázquez com um olho roxo.
A multidão também protestou contra a decisão.
Em uma entrevista de 2010, o árbitro disse que foi então instruído a deixar o jogo e ceder o apito para um dos bandeirinhas, com Pelé retornando rapidamente ao jogo.
Pelé realmente interrompeu a guerra?

A Guerra Civil da Nigéria causou a morte de mais de um milhão de pessoas entre 1967 e 1970. Na década de 1960, o Santos de Pelé era um dos times de futebol mais famosos do mundo, e eles tiraram proveito dessa fama para disputar partidas amistosas lucrativas em todo o planeta.
Na Nigéria, devastada pela guerra, em 4 de fevereiro de 1969, o Santos derrotou um time local por 2 a 1 na cidade de Benin. Na época, a Nigéria estava envolvida em uma sangrenta guerra civil desencadeada pela tentativa de secessão de Biafra. Segundo Guilherme Guarche, historiador do Santos FC, os brasileiros estavam preocupados com a segurança da delegação e por isso foi acertado um cessar-fogo entre as partes em conflito.
Essa história vem sendo contestada nos últimos anos e curiosamente não apareceu na primeira autobiografia de Pelé, lançada em 1977. Mas em outra autobiografia, divulgada 30 anos depois, o brasileiro mencionou o episódio. Ele disse que os jogadores foram informados de que “a guerra civil seria interrompida por causa do jogo de exibição”.
“Bem, não tenho certeza se isso é totalmente verdade, mas os nigerianos certamente garantiram que os biafrenses não invadissem quando estivéssemos lá”, escreveu Pelé.
Como Pelé ‘esnobou os Beatles’
Pelé se mudou para Nova York em 1975, para jogar pelo New York Cosmos, na primeira tentativa dos Estados Unidos de formar uma liga de futebol profissional (1968-84). Ele teve aulas de inglês em uma escola de idiomas e em um dos intervalos o lendário brasileiro esbarrou com o ex-Beatle John Lennon, que também morava na Big Apple.
“Lennon estava aprendendo japonês na mesma escola”, escreveu Pelé em suas memórias de 2007.
O brasileiro afirma ter ouvido de Lennon que ele e os outros Beatles tentaram visitar o hotel da seleção brasileira durante a Copa do Mundo de 1966, disputada na Inglaterra.
Pelé escreveu que as tentativas dos músicos de conhecê-lo, foram impedidas pelos conservadores diretores da confederação brasileira.
Por que ele nunca jogou em um clube europeu?

O problema é que, ao contrário de muitos jogadores brasileiros, famosos ou não, Pelé foi literalmente impedido de se mudar para o exterior durante seu apogeu.
O Santos recusou ofertas de clubes como Real Madrid e Milan, numa época em que os jogadores tinham pouca influência sobre onde jogavam.
A pressão para mantê-lo no Brasil veio até dos escalões mais altos do governo: em 1961, o então presidente Jânio Quadros emitiu um decreto declarando Pelé um “tesouro nacional” que não podia ser “exportado”.
A lenda brasileira acabou jogando por um clube estrangeiro, mas apenas em 1975, quando foi para o New York Cosmos, dos EUA.
Quando Pelé foi ‘sequestrado’ no Caribe
Pelé costumava ser carregado nos ombros, mas a experiência de Trinidad foi bem diferente. Os jogadores do Santos não estavam felizes de jogar em Trinidad e Tobago, em 5 de setembro de 1972.
“Houve sérios distúrbios civis e vimos tanques nas ruas”, lembrou o defensor Oberdan ao jornal Zero Hora em 2010. “Todos concordamos que teríamos que jogar o jogo o mais rápido possível para que pudéssemos ir de volta para o avião.”
Mas a delegação não contou com a reação da torcida ao gol de Pelé aos 43 minutos. Os torcedores invadiram o campo do estádio Port of Spain, e logo estavam marchando pelas ruas da cidade com Pelé nos ombros, em um desfile comemorativo. Depois de vários minutos desconfortáveis, ele foi resgatado.
Roubando os holofotes de Sylvester Stallone

A falta de habilidade futebolística de Stallone levou a uma troca de papéis com Pelé no filme Escape to Victory, de 1981. Quando as filmagens do filme Escape to Victory começaram em 1980, Sylvester Stallone já era um grande sucesso na indústria cinematográfica graças aos dois primeiros filmes de Rocky. Escape to Victory conta a história de um jogo fictício entre um time nazista e uma equipe de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial.
Pelé estava lá, ao lado de outros futebolistas profissionais ativos e aposentados, como os vencedores da Copa do Mundo Bobby Moore e Ossie Ardiles, enquanto Stallone atuava de maneira pouco convincente como goleiro. Pelé chegou a acertar um acrobático chute de bicicleta em uma das cenas, acertando com perfeição na primeira vez que pegou na bola.
Curiosamente, Pelé disse no início deste mês, em uma entrevista de vídeo, que Stallone deveria ser o autor dos gols. “No roteiro original, Stallone era o atacante e eu deveria ser o goleiro”, disse o jogador. “Mas ele não conseguiu chutar uma só bola”, acrescentou Pelé, rindo.
Pelé certamente não teria decepcionado se tivesse feito o papel de goleiro em Escape to Victory. Na vida real, o brasileiro era o jogador de campo designado para jogar no gol pelo Santos e pela Seleção, numa época em que as equipes só podiam fazer uma substituição por jogo.
Na verdade, ele usou as luvas pelo Santos quatro vezes em sua carreira, inclusive em uma semifinal de campeonato em 1964. O time venceu todos os jogos e Pelé não sofreu um único gol.