A Transfiguração da Realidade

por Evandro Antônio Correia
Compreender nossos costumes e tradições, nossas próprias convicções, a nossa identidade, é uma questão que vai além da nossa materialidade. O ser humano utiliza instrumentos como a arte, com finalidade espiritual (uma linguagem que amenize o «terrível quotidiano»). A «arte dos sons», por exemplo, faz com que os ouvintes tenham sensações que os conduzam a uma reflexão do momento e daquilo que estão escutando. É uma motivação constante para renovar o modo de perceber a música. O movimento da beleza, faz perceptível algo além da matéria! O perceber leva o ser humano à transcendência, ao divino. A função da arte é conduzir o Homem através das coisas materiais (pintura, música, escultura, construções), para uma transformação e um melhor conhecimento da realidade.
Vamos fazer um «salto de qualidade»: a Beleza é a manifestação de Deus. Bondade, Verdade, Pureza são manifestações do Divino. A sublimidade divina é manifestada no fenômeno da Revelação (a Bíblia), na estética da Criação. Outro passo: a Igreja (importante e o maior mecenas que já existiu), utiliza o espaço físico das suas construções para levar o Homem ao seu encontro com Deus (a Revelação) e com o seu próximo (a Criação). Um lugar em que todos afluem e acontecem, um encontro em que se colhem frutos espirituais e materiais: o Belo é o representante da Bondade de Deus.
Mais um passo: estética significa «sensações». Torna-se estudo filosófico que influenciará a produção artística, com seus «efeitos psicológicos». Esse estudo filosófico transformará o significado de arte em «filosofia da criatrividade e do gosto», que se transformará, por sua vez, em «Arte Livre». Ela exerce nova pressão de interesse, o «genial». E, o objetivo da arte, é transformar o encontro das nossas várias ideias, contidas na moral comum e nas obrigações de todos os indivíduos, para o bem desenrolar da vida social.
Deste modo, o Belo é aquilo que cria a colaboração entre as várias capacidades do Homem. E, o «gênio», na sua obra de arte, acredita no efeito causado no expectador, em nós! A Arte nos faz pensar mais e essas «representações» atingem nossa mente. Para ela confluem elementos da realidade artística, uma consciência que envolve: ver, intuir, ouvir, saber, conhecer.
A estética faz o processo de materialização na nossa mente, fenômeno que passa pelo olhar, pelo ouvir, pelo sentir. Sim, as primeiras impressões são as mais importantes e é o objetivo do artista. Contudo, o saber de como foi feito, por exemplo, pode dar um «afago à razão», mas não basta. A beleza em uma obra musical, não deve ser considerada apenas a interpretação. Essa beleza aparece na intuição, na pura contemplação do ouvinte do conjunto dos sons, a sua totalidade. Somente ao artista é dado de conservar essa totalidade e de torná-la viva na sua representação, em cada ocasião que se interpreta a obra musical. A execução realizada apresenta a sua verdadeira ideia dos sons e, aos ouvintes, resta que abandonar-se ao seu efeito e estar atento ao fenômeno, para que ele não se dilua e não fuja.
Até a próxima!