Por que um cristão não pode apoiar ditaduras  e terroristas?
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Um cristão não pode apoiar ditaduras nem terroristas por uma razão central: ambos negam, na raiz, a dignidade inalienável da pessoa humana, criada à imagem de Deus (Gn 1,27). A fé cristã começa reconhecendo que cada vida é sagrada; por isso, todo projeto político ou ação armada que despreze vidas — especialmente de inocentes — contradiz o Evangelho.
Ditaduras concentram poder, sufocam liberdades, distorcem a verdade por propaganda, perseguem opositores e instrumentalizam as instituições. Isso viola princípios básicos da Doutrina Social da Igreja: dignidade da pessoa, bem comum, subsidiariedade e solidariedade. Sem liberdade de consciência, de expressão e de religião, a sociedade adoece; a verdade, que “liberta” (Jo 8,32), é substituída pelo medo e pelo culto ao líder. A autoridade legítima é serviço ao bem comum; quando se transforma em tirania, deixa de ser moralmente vinculante. Daí o juízo cristão: leis e ordens injustas não obrigam a consciência; “é preciso obedecer a Deus antes que aos homens” (At 5,29).
Terrorismo é intrinsecamente imoral porque faz do ataque deliberado a não combatentes o seu método. O Evangelho proíbe a lógica de “fazer o mal para que venha o bem”; o fim nunca justifica os meios. A tradição cristã da “guerra justa” — prudencial e restritiva — sempre excluiu a agressão a civis, a crueldade e o terror. Sequer a causa mais nobre pode autorizar a injustiça homicida. Além disso, o terrorismo alimenta ciclos de ódio, desencadeando represálias e novas injustiças, o oposto da justiça que “se abraça com a paz” (Sl 85).
Há um critério evangélico: as Bem-aventuranças exaltam os mansos e os artífices da paz (Mt 5). Ditaduras e terrorismo prosperam na violência, enquanto o cristão é chamado a promover reconciliação, estado de direito, participação responsável, cultura do encontro e defesa dos vulneráveis. Jesus rejeita a espada como solução (cf. Lc 22,51) e denuncia líderes que “oprimem” (Mt 20,25-28), oferecendo o modelo do serviço.
Alguém poderia objetar: “Mas e se a ditadura trouxer ordem? E se o terrorismo reagir a uma injustiça?”. O cristianismo responde: ordem sem justiça é opressão, e reação sem moralidade é crime. A paz autêntica nasce da justiça, do respeito aos direitos, da busca sincera da verdade e do bem comum, nunca do medo. Onde o Estado falha, o caminho cristão é a ação social, a caridade política, a não violência ativa, a incidência pública, a proteção jurídica das vítimas e o diálogo firme — não a legitimação do mal.
Por fim, apoiar ditaduras ou terroristas corrompe a consciência: acostuma-nos a relativizar o assassinato, a tortura, a mentira e o culto ao poder. O discípulo de Cristo, ao contrário, reconhece cada pessoa como um próximo a ser cuidado (Lc 10) e sabe que será julgado pelo amor (Mt 25). Portanto, por fidelidade ao Evangelho e à razão moral, um cristão não pode endossar regimes tirânicos nem organizações terroristas; deve, sim, trabalhar por estruturas justas, pela conversão dos corações e por uma paz que seja fruto da verdade e da justiça.

Amém.