O Externato Santa Cecília (2)
Não só as crianças são beneficiadas com mais essa fundação de Madre Teodora. Caminha o tempo e, à observação arguta do grande bispo Dom Duarte Leopoldo e Silva, não passam despercebidos os cuidados das educadoras josefinas, em prol das gerações paulistas. Começam a cair os tabus contra a instrução feminina. A mulher passa a ter assento nas escolas de ensino médio e superior. Poucos são os centros onde as moças podem adquirir maior formação cultural e, por isso, quase todas demandam à capital do Estado, em busca de escolas mais adiantadas. É um novo problema que surge para os pais dessas estudantes, pois terão que deixar suas filhas sozinhas, entregues a todos os riscos de vida numa metrópole cheia de seduções e perigos.
Há necessidade de um pensionato dirigido por Irmãs, onde as jovens fiquem resguardadas, tranquilizando os progenitores. Dom Duarte bate às portas do Patrocínio, e um “sim” consolador lhe é dado por aquela que compreende as angústias e necessidades da juventude paulista. Madre Teodora instala, anexo ao Externato, o Pensionato Santa Cecília, onde dezenas de estudantes passam a gozar de ambiente sadio e alegre, ao voltar das escolas. Sob a guarda das bondosas Irmãs, levam vida controlada e podem se dedicar despreocupadamente aos estudos, porque tudo têm a tempo e hora. Quais mães solícitas e vigilantes, cuidam as religiosas do conforto material e moral das moças que lhes são confiadas. Aumenta sempre o número de pensionistas, e aumenta também o zelo das dirigentes. O “Santa Cecília” prossegue fiel ao seu programa, firme na sua missão em prol da infância e da juventude.
Em 1944, uma série de improvisos concorre para a cessação das atividades educativas do popular Externato. Não mais se abrem seus portões para a criançada alegre do bairro. Sua finalidade agora vai ser bem diferente. Antes cenário de traquinagens e bulício infanto-juvenil, hoje, “Escola de Enfermagem”, santuário destinado a formar heroínas, que, à cabeceira dos doentes, repetirão o hino da caridade e do desprendimento, aprendido de suas mestras.
O velho Santa Cecília não mais ouvirá ecoar em seus muros o riso alegre e despreocupado da meninada, mas recolherá talvez, em seu seio a lágrima pungente de corações palpitantes de amor ao próximo, que se internarão em enfermarias, e ali, auxiliares valorosas dos médicos, cuidarão dos doentes e lhes levarão sempre uma palavra de conforto. Formadas nos conhecimentos profanos e imbuídas da noção de que a sua profissão é um verdadeiro sacerdócio, as enfermeiras que por lá passarem levarão para o campo da vida prática a sã doutrina do Divino Mestre, que nos manda ver no próximo sofredor o nosso irmão mais necessitado de carinho. As formandas da “Escola de Enfermagem Santa Cecília” saberão assim ser as continuadoras da obra de Madre Teodora, a grande Apóstola sempre disposta a renunciar a tudo, para ver brilhar, na face lívida do enfermo, o sorrido de saber-se protegido; ninguém melhor que ela soube fazer da felicidade alheia a própria felicidade… De sua atitude continua a brotar a sementeira do bem!
20 de julho de 1957