Frei Vital, capelão do Patrocínio (1)
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Itu pode se orgulhar de ter sido fiel depositário das almas eleitas, que iriam torná-lo grande e conhecido no Brasil inteiro. A obra educativa, iniciada pela apóstola incomparável vinda de além mar, numa florada esplêndida, verga hoje os seus galhos na colheita de frutos abundantes.

Colégios disseminados pela terra de Santa Cruz cantam aos quatro ventos as glórias e hosanas de uma jovem dotada de força invulgar, que um dia sonhara levar almas a Cristo e, nesse enlevo realizador, aqui aportara para suas primeiras conquistas…

Escolas, orfanatos, hospitais, asilos completam a moldura do quadro lindo, há um século esboçado em Chambéry.
Artista feliz, embalada pela canção do abandono total à Providência, Madre Teodora vive a retocar o quadro. Guia o rebanho pelos verdes campos da fé e do saber, orientada espiritualmente por capelães dedicados, caridosos, desprendidos, abnegados.

Padre Goud, primeiro chefe espiritual da obra nascente, dá o melhor de seus esforços à colmeia que ajudara a fundar. Circunstâncias imperiosas, porém, obrigam-no a abandonar as abelhinhas ituanas. Madre Teodora preocupa-se por uns momentos. Onde encontrar um substituto à altura? Tão acostumadas à sua orientação, as Irmãs e alunas…

Como privar tantas almas do Pão Divino, se Nele está a força para os combates de todas as horas, o saciar da fome bendita de corações que já não podem sem esse alimento vivificante?

Deixaria Jesus perecer a Missão? Não! A Virgem do Patrocínio aí está vigilante e, como nas bodas de Caná, faz sentir ao Seu Filho o embaraço da dona da casa. Repete-se o milagre: o vinho generoso e doce volta a deliciar os convivas do Divino Banquete…

Deus põe à prova a fidelidade de seus ministros, e inspira aos capuchinhos uma solução. Quinzenalmente, enfrentando o desconforto e a canseira de doze horas batidas a cavalo, por caminhos às vezes enluarados, às vezes envoltos no negror da tempestade, vem de São Paulo, um valente sacerdote, compenetrado da grandeza e sublimidade de sua tarefa apostólica. Chega pela madrugada, confessa, celebra a Santa Missa, sacia aquelas almas com a Hóstia palpitante, ensina-lhes a doutrina e volta para o Seminário, onde o esperam os futuros levitas do Senhor, para beber no exemplo de tão árduo sacrifício as mais belas e encorajadas lições para o seu ministério!

Está escrito, porém, que essas peregrinações tão penosas logo terão fim. Uma circunstância fortuita trará a Itu um predestinado do Senhor, para aqui, ao lado de Madre Teodora se aperfeiçoar na arte difícil da renúncia total, da consumação inteira do cálice da amargura…

Tocado pela graça, um jovem paraibano ingressa no Convento dos Capuchinhos em Pernambuco. Moço de raro talento e grande força de vontade, é logo enviado para a França, onde se ordena. Deus não o quer aí. Envia-lhe grave doença, e os superiores alarmados, não hesitam em repatriá-lo imediatamente. Estão a lhe fazer falta os ares do Brasil, e mais uma vez, a França se despoja de uma brilhante joia para engastá-la em nosso diadema de glória.

Chega a São Paulo e logo é mandado para a capelania do Patrocínio. Vai assim Itu ter a ventura de sentir de perto a dedicação do Sacerdote herói cujo nome a História pátria escreveria um dia com letras douradas, e que reverentemente pronunciamos, ufanos de ter sido a nossa terra o primeiro campo de ação do futuro mártir da fé, Frei Vital Maria.

Indiferente a canseiras e sacrifícios, esquecido do repouso aconselhado pelos médicos, esgota-se no trabalho estafante, preparando o espírito para as duras provações que um dia enfrentará.

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu