A menina Luísa Josefina (3)
“Nem sei onde achei tanta coragem”, dirá ela mais tarde, “para abandonar às mãos de uma madrasta meus irmãozinhos e, sobretudo, minha querida Alexandrina, a quem servi de mãe. Meu coração parecia estalar de dor, mas eu estava pronta a todos os sacrifícios a fim de responder ao apelo do Divino Mestre.”
E graças a essa prontidão em atender ao Alto, é que Itu hoje mereceu a glória de tê-la entre os seus troféus mais caros.
Aos vinte e quatro anos, num “fiat” generoso, submissa à vontade de seus superiores embarca para a nossa terra, e aqui, num devotamento ímpar, fez ainda maior a grande família brasileira, lapidando durante mais de sessenta anos, o coração de nossas mães e avós, enxugando a lágrima dos nossos doentes, socorrendo os órfãos abandonados, formando futuros sacerdotes, médicos, engenheiros, advogados e uma plêiade fulgurante de famílias cristãs.
De seu trabalho, de suas fundações, de seu governo à frente da Província, falaremos em crônicas subsequentes. Aos poucos, amável ouvinte, iremos relatando fatos de sua vida, para que a sua figura se agigante cada vez mais aos olhos das gerações contemporâneas, ainda hoje beneficiárias de seu zelo ardente de sua fé inquebrantável.
Ao entrar no noviciado, pedira a Jesus que nunca lhe negasse o pão do sacrifício. Suas súplicas, nesse sentido, foram divinamente atendidas. Com requintes de amor, o Divino Esposo se compraz em preparar-lhe a cruz para os seus cinco últimos anos de vida. Na sexta-feira santa de 1920, justamente quando se dirige à capela, a fim de consolar a Virgem Santa na sua triste soledade, ouve uma voz que lhe diz: “Vou mostrar-te o que és!” No mesmo instante, dá um passo em falso, cai de mau jeito, e quebra o fêmur. Resultado: imobilidade no leito durante muito tempo. Andar, nunca mais, apenas de carrinho… Que dolorosa via crucis: torturada no físico, abatida e atormentada no moral, bebe na taça da amargura e do sacrifício o néctar divino, com que se aformoseia para as “núpcias eternas”…
Durante toda a enfermidade, Jesus é a sua primeira visita. Vem pelas mãos do Revmo. Padre Masset, trazer-lhe o conforto de sua presença e coragem para a dura escalada do Calvário!
Raia o dia 17 de julho de 1925. Lúcida, Madre Teodora aguarda a hora bendita de receber a Hóstia Imaculada. Jesus nega-lhe essa consolação, porque lhe reserva outra maior: daí a poucas horas, virá buscá-la e hospedá-la em seu regaço divino por toda a eternidade. Às 10 e meia cerra os olhos para o mundo e, antes de abri-los para a eternidade, deixa rolar uma lágrima de sangue a selar eloquentemente uma existência toda de imolação e submissão à vontade de Deus!
Morta, ficou entre as suas filhas, no Cemitério do Colégio, pregando ainda o sermão mudo da resignação, da obediência e da humildade. No céu não esquece os que aqui deixou. Os que a invocam recebem torrentes de benefícios e favores.
06 de abril de 1957
Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu