O purgatório não é uma ficção
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por Pe. Salathielde Souza

Por ignorância completa, muita gente imagina que a função da Igreja Católica seja o controle social e a busca do poder temporal mundano. Ledo engano. A missão principal dos discípulos de Cristo é a salvação das almas. Foi para isso que o Nazareno deixou-se matar numa cruz. Todas as revelações que Jesus fez, anunciando o Evangelho, tinham como objetivo fundamental livrar-nos das garras do demônio e ajudar-nos a chegar na nossa casa comum, que é o Céu. O resto é conversa mais que fiada. Salvar almas é tudo.
Nesse processo de salvação das almas, a infinita bondade divina nos apresenta o mistério em torno do Purgatório. Alguns teólogos o chamam de “o último grito da Misericórdia”, ou seja, a última chance na qual Deus oferece a salvação através da purificação dos pecados. Trata-se de uma realidade sobrenatural aceita desde os tempos dos judeus e presente também, mesmo que de forma imperfeita, em vários sistemas de crença surgidos ao longo da história espiritual da humanidade. Portanto, não é uma ficção.
Ao contrário do que alguns imaginam, o Purgatório também não é um lugar para os de “meio termo”, os mornos, no linguajar bíblico. Passei a vida inteira nesta terra de forma medíocre ou acendendo velas para Deus e o diabo. Então, como não fui nem tão santo e nem tão pecador, fico na metade do caminho. Nada disso. O Purgatório é uma via de santificação da alma após a morte. São muitos os que falecem sem se preparar, por relaxo espiritual ou fatalidades repentinas. Morrem com pecados e é preciso ajuda-los.
É então que Deus entra com a Misericórdia. Sabendo do desejo daquela alma pela salvação, mas vendo-a perecer ainda com pecados, o Criador oferece o Purgatório para que aquela pessoa “purgue”, ou seja, se “purifique”, seja limpa. No Céu, o pecado não entra. A nossa alma, mesmo com uma manchinha pecaminosa, não pode entrar no Paraíso. O Purgatório seria, muito mal comparando, a última lavanderia. Trata-se de um lugar de dupla condição: sofrimento para pagar o pecado e consolo de alcançar o Céu.
A alma que aceita o Purgatório vai encarar uma série de sofrimentos, mas nem de perto iguais aos do Inferno. São penitências e castigos justos, por causa dos pecados ainda não superados em vida. Porém, nessa estadia purgativa, a alma recebe constantemente a visita do seu Anjo da Guarda, que a anima e consola na esperança. Que esperança é essa? A de que, no Purgatório, uma hora o sofrimento acaba. Purgados os pecados, a alma pode finalmente entrar no Céu para sempre. Tudo de acordo com Justiça Divina, que não erra.
O Purgatório, portanto, não é definitivo. Dura um tempo, mas não um tempo que possamos medir com os nossos relógios e calendários. Na eternidade, fora do espaço-tempo do universo físico, as coisas acontecem segundo o “kayrós”, o “tempo de Deus”. Esta é a diferença dos sofrimentos do Purgatório em relação aos do Inferno. Neste último o choro e ranger de dentes dura para sempre. Já tratamos um pouco desse assunto.
Esteja sempre em dia com Deus. Freqüente o confessionário constantemente e com real arrependimento, para obter o perdão dos pecados. Seja firme na vida de oração e sacramental. Caminho para a santidade é o tripé: oração, confissão e Comunhão. Chame um padre, se puder, quando estiver no leito de morte. Receba a Extrema Unção e a Eucaristia pela última vez, antes de perecer. Dizem que é difícil ir para o Céu direto, mas o Purgatório já nos garante o acesso. Não podemos bobear, pois o preço do descaso resulta na pior opção de todas: sofrer a eternidade inteira no colo do capeta. Deus nos livre!