O reinado do Sagrado Coração

Ainda vivia em Santos (SP), o padre Bartolomeu Taddei, quando idealizou uma enorme celebração para glorificar o Coração de Jesus. O evento mobilizou os membros do Apostolado de todo o país, comemorando o jubileu de ouro sacerdotal do papa Pio X. O padre Taddei sabia sensibilizar o povo, lembrando-o da importância da palavra e da pessoa do Sumo Pontífice. Desejava coroar a imagem do Sagrado Coração, do Santuário de Itu, evento simbólico do reinado de Jesus sobre o universo.
Duas belas imagens francesas na parte central da abside do altar do santuário, em gesso, representam a aparição do Coração de Jesus a Santa Margarida Maria, no século XVII em Paray-le-Monial. Taddei, talvez motivado pela coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida, em 1904, pensou que a coroação seria uma forma de suplantar o poder político fosse da monarquia ou da república no Brasil, revelando Jesus como o grande rei e assim lutar contra a laicização da cultura.
Taddei escreveu a todos os centros do Apostolado manifestando seu desejo: “À medida que os inimigos da Igreja com os novos erros do “modernismo” se esforçam por despir a adorável pessoa de Jesus Cristo de todo o caráter divino: à medida que o grande Pontífice Pio X, apoiado nas mãos de Jesus Redentor, se entrega ao penoso afã de reorganizar a sociedade prestes a dissolver-se, é mister proclamar bem alto, com toda a energia de uma fé viva e robusta, o reino do Coração de Jesus e a sua divindade.”
A Santa Sé avaliou a proposta e considerou mais adequada a imposição de uma auréola à imagem do Coração de Jesus, do que a coroa. Não seria demasiado pensar que o diadema poderia representar uma bandeira contra o republicanismo, tradicionalmente ligado a livres pensadores e protestantes de matriz estadunidense, no Brasil, enquanto a monarquia tivera forte relacionamento com a Igreja Católica, mesmo que somente com vínculo pela hierarquia do poder.
O padre Taddei então iniciou uma campanha entre os centros do Apostolado. Em um país que se encaminhava para a fria ausência do Cristianismo, dado o estado laico da Constituição de 1891, a cerimônia reuniria ainda mais os católicos em torno proposta por ele faria, como reflexo, reinar em todos os lares, em todas as igrejas e cidades.
De todo o país, foram encaminhados a Itu anéis, colares, pulseiras e outras jóias de ouro além de pedras preciosas de diversas cores. Reunido por um ourives, o material acabou compondo uma bela e riquíssima auréola que, porém, não está mais sobre a imagem. Hoje temos uma cópia. Ao longo do século XX a peça teve suas pedras substituídas por réplicas para sustentar ações sociais ou mesmo para sobrevivência da própria comunidade dos jesuítas da igreja do Bom Jesus que chegou a passar fome no período posterior à II Guerra Mundial.
Na próxima edição veremos com foi a solenidade em 1908.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”