Pe. Karl Doppler

Passados trinta anos da chegada dos primeiros jesuítas da Missão Romana ao Brasil (a Itu), o projeto da Companhia de Jesus crescia a olhos vistos de tal forma que se estruturou a criação de um noviciado da Ordem em terras brasileiras, a fim de abrigar as vocações locais. É certo que já alguns brasileiros haviam ido à Itália para os primeiros passos na Companhia, mas a viagem era dispendiosa e as famílias não queriam que os filhos fossem para tão longe. Dentre esses jovens havia um ituano, o Manuel Augusto Pinto Neves, ex-aluno do Colégio São Luís, que faleceu muito jovem na Itália, em 1879, tornando-se espécie de modelo de virtudes aos próximos jesuítas. Um retrato dele sempre se conservou no noviciado brasileiro, como homenagem e fonte de inspiração.
O noviciado, como já vimos, é a primeira fase da formação de um religioso, quando ele tem contato com a espiritualidade da Ordem, vivencia momentos de oração e silêncio, meditação, trabalhos manuais e conhece a história e os santos da Companhia. São dois anos de preparação.

Mas a turma que se pretendia criar, em 1894, não contava brasileiros em número suficiente. Do colégio de Itu foi incorporado o jovem Luiz Gonzaga Novelli, italiano de Montazzolli (Abruzzos), mas que, feitos os primeiros estudos percebeu que sua vocação era outra. Voltou para Itu, aonde a família se radicara, tornou-se comerciante e notável nas ações sociais católicas. Constituiu numerosa família de quinze filhos, dentre os quais o deputado Luiz Gonzaga Novelli Júnior, a quem Itu tanto deve e o padre José Novelli, este sim, jesuíta.
Foi preciso recorrer a europeus, geralmente das escolas apostólicas da Companhia de Jesus, para compor o grupo que formou o germe do Noviciado São Estanislau, constituído em Campanha (MG). Dentre eles estavam dois jovens vindos da França, Adriano Lochu e Karl Joseph Doppler.
Nascido em Schlestadt, Alemanha a 7 de novembro de 1874, Doppler fora, inicialmente, aluno na Escola Apostólica de Littlehampton. Veio para o Brasil em fins de setembro de 1894. Acabada a sua primeira formação, foi destinado a Setubal (Portugal) para estudar Filosofia. Veio então para o Colégio São Luís em 1900. Ficou aqui somente por dois anos lecionando línguas – francês e alemão. Depois dessa passagem, nunca mais viveu em Itu. Foi para a Europa, estudou Teologia e foi ordenado padre. Finalmente voltou ao Brasil, para o colégio de Nova Friburgo.
O Padre Doppler exerceu outras funções como missionário, no Sul do Brasil, na cidade de São Paulo e em Promissão, junto às comunidades rurais, quando foi responsável pela evangelização de japoneses. Nestas outras casas jesuítas, Doppler pôde conviver com diversos missionários que passaram por Itu, integrando assim as experiências com esses religiosos.
Seus últimos anos, Doppler passou em São Paulo, na igreja de São Gonçalo e no Colégio São Luís, onde faleceu a 17 de julho de 1951 após longa enfermidade.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”