Pe. Mario Arcioni


As crônicas que compõem esta coluna noticiam um dos mais importantes movimentos missionários da história da Igreja no Brasil, levado adiante pela Companhia de Jesus, tendo como ponto de partida a cidade de Itu. Elas são resultado de pesquisa em muitas fontes, algumas documentais, do acervo da Biblioteca Histórica do Bom Jesus, outras das memórias de antigos jesuítas, que registraram as façanhas heroicas de seus companheiros através dos colégios ou das missões populares.
Dentre estas memórias estão os originais deixados pelo padre Mário Arcioni, intitulados “História da Companhia de Jesus no Brasil”, material que reúne crônicas do que ele viu e ouviu sobre as diversas casas, colégios e missões dos Jesuítas, do Sul ao Norte do Brasil.
Arcioni foi um dos mais longevos jesuítas de seu tempo: viveu 85 anos e guardou sempre uma memória prodigiosa, seja para as coisas da religião ou do cotidiano.
Nascido a 15 de agosto de 1837 em Spoleto, na Umbria, fez seus estudos ao lado de Francesco Possenti, um jovem que abraçou a vida religiosa junto aos Passionistas e que, em 1920 se tornaria São Gabriel da Virgem Dolorosa. Arcioni não foi menos santo que seu colega canonizado. Passou a vida dedicando-se a uma ascética de enorme piedade, vida interior de introspecção e recolhimento. Após os estudos foi ordenado padre em 1864. Iniciou sua vida religiosa junto a um hospital em Roma, mas logo foi destinado ao Brasil, para compor o grupo que fundou o colégio de Recife. Com outros colegas ensinou por oito anos os jovens e também os seminaristas de Olinda até que os jesuítas foram expulsos de Pernambuco (e do Brasil) pela ação da maçonaria.
Arcioni viveu por quinze anos em Portugal como cura de almas. Iniciou aí, além do atendimento espiritual a quem o procurasse, uma nova mística, a “modéstia dos olhos”, evitando o prazer visual de olhar para as pessoas. Reconhecia os outros pela voz.
Chegou, o padre Mário Arcioni, a Itu em 25 de setembro de 1888. Os cinco anos que passou entre o Colégio São Luís e a igreja do Bom Jesus impressionaram o povo e os estudantes, tamanha a sua coragem em socorrer material e espiritualmente os atacados nas epidemias de febre amarela, em Itu, Campinas e Santos. Passou a ser chamado “santo padre” pelo povo.
Em 1894 foi viver em Campanha (MG), novamente cuidando das confissões e da direção espiritual do povo. Retornou a Itu por mais três anos na igreja do Bom Jesus em companhia do Padre Taddei, pregando missões e exercendo ministérios, sempre com enorme mortificação do corpo. Sua vida era os estudos, o atendimento do povo, na igreja e nos sítios e a oração constante, horas a fio, diante do altar.
Arcioni passou os últimos anos de vida em Nova Friburgo, no Colégio Anchieta, atendendo espiritualmente os jovens. Faleceu a 10 de janeiro de 1923. Das suas exéquias participaram oitenta padres.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”