por Nilo Pereira

Leituras iniciais do 10º Domingo do Tempo Comum

1ª Leitura (Gn 3,9-15)
Esta narrativa não é uma crônica de um fato ocorrido no começo do mundo, mas uma história através da qual Deus quer projetar sua luz sobre alguns enigmas que nos perturbam: por que os homens sofrem e morrem? Por que a mulher é atraída pelo homem e este procura dominá-la? Por que as pessoas vivem como se Deus não existisse? Por que a gravidez é tão dolorosa?
A narrativa do Gênesis revela antes de tudo que o mal não vem de Deus, mas, sim do homem. Este se comportou como uma criança que, diante de uma obra prima, em vez que seguir os traços do grande artista, retoca a tela de uma forma atabalhoada, garatuja com os pincéis e acaba deslustrando a tela inteira.
A ilusão de poder fazer escolhas arbitrárias, a autonomia em relação a Deus são comparadas na Bíblia a uma serpente. É uma idéia que invade a mente e o coração do homem sorrateira e ardilosamente e o conduz à prática do mal.
E quais são as conseqüências do pecado? Antes de tudo, o homem que pratica o mal não se encontra no lugar que lhe foi designado na criação. Deus o procura, o chama, mas ele não é localizado. A segunda conseqüência é o distanciamento dos seus irmãos. Adão acusa Eva, esta põe a culpa na serpente. Os que pecam se incriminam mutuamente, responsabilizando o outro pelas próprias desgraças, agridem-se, odeiam-se. A terceira conseqüência é a destruição de quem o comete. Quem se afasta de Deus julga ter finalmente descoberto o caminho que conduz à felicidade, mas, em vez disso, depois do pecado se sente nu, como os animais ou como os escravos, despojados da liberdade. Quer tornar-se um super-homem e se sente envergonhado, porque perdeu a própria dignidade.

2ª Leitura (2Cor 4,13-5,1)
Sabemos, pelo que lemos nos domingos anteriores, que essa carta foi escrita em um período tumultuado na vida de Paulo. Não desanimo – diz ele – embora me dê conta que o meu corpo começa a desfalecer.
Ao enfraquecimento físico, reafirma ele, não corresponde um esmorecimento interior; a cada dia constato dentro de mim o crescimento de um homem novo, que permanecerá para sempre. Dessa constatação surge o convite para afastarmos o olhar das coisas visíveis e fixá-lo nas realidades invisíveis. Não quer certamente nos exortar a desprezar os bens deste mundo e a não nos dedicar para melhorar as condições desta vida material.
Ele não ensina que o cristão deve desinteressar-se pelos problemas da Terra, mas o incita a atribuir-lhes o valor certo. Os bens materiais não podem de forma alguma se transformar em ídolos, isto é, não podem ser considerados como os únicos objetivos da vida. O homem se serve deles para poder viver, não vive para acumular tesouros.
No último versículo Paulo proclama, transbordando de alegria, a sua certeza: quando se desfizer este corpo, todos nós receberemos um nos céus, não feito por mãos humanas.