A letra fria da Lei e a falta de bom-senso no futebol

A arbitragem, antes de se preocupar com a comemoração do gol, deveria olhar seu próprio desenvolvimento, evitando assim, erros crassos que vem sendo uma constante em todas as rodadas. Ao meu ver, o VAR foi criado para acabar com “injustiças”, discrepâncias, mas não, fica ao bel prazer, desse e daquele árbitro, ou, o conjunto deles. Em primeira análise, ou como o título, na fria letra da lei, existem 15 tipos de decisões que o VAR deveria ser acionado, propiciando a revisão de gol, pênalti, cartão vermelho direto, confusão de identidade, posição de impedimento na jogada de criação do gol (somente no lance que gerou o gol), infração da equipe atacante na jogada de criação do gol (qualquer falta não marcada), bola fora do campo antes do gol (verificar se a bola saiu das quatro linhas ou não), gol ou não gol (verificar se a bola entrou inteira), pênalti erroneamente assinalado, pênalti não assinalado, falta ou impedimento antes da jogada de pênalti, cometido pela equipe atacante, bola fora de campo antes da jogada de pênalti, as revisões limitam-se a expulsões diretas e não ao segundo cartão amarelo, o VAR observa uma falta de expulsão clara que não foi detectada pelo árbitro e se o árbitro advertir com cartão amarelo ou expulsar um jogador erroneamente.
Até quando……
Este sexagenário já viu muita coisa, e plagiando meu amigo Jura – vou morrer e não verei tudo – mas, até quando as autoridades assistirão cenas de agressão (não ocorreu por ação rápida e eficiente dos seguranças do aeroporto) e intimidação, da parte dos “pseudos torcedores” a jogadores. O que muda no dia-a-dia de um torcedor, se o time dele ganha, empata ou perde. Só para ilustrar, vivenciei 17 dos 23 anos de fila do Corinthians, e nunca, repito, nunca soube de invasão, agressão (mesmo que verbal) de torcedores. Vale lembrar que a perda do título do Timão para o Palmeiras em 1974, tirou o craque Rivelino, que seguiu para o Fluminense, por pressão de diretores e não de torcedores.
Recentemente, a nutricionista Cíntia Carvalho, do Figueirense desabafou e chorou após agressão de torcedores ao elenco, quando cerca de 30 torcedores invadiram o estádio Orlando Scarpelli e partiram para cima dos atletas. Chorando e bastante revoltada, ela destacou que cobranças violentas por parte de torcedores precisam acabar no futebol. Depois da derrota em casa para o Paraná, por 1 a 0, os jogadores do Figueirense voltaram ao trabalho, em dado momento, cerca de 30 torcedores invadiram o estádio e partiram para cima dos atletas com fogos de artifício. A Polícia Militar só controlou os vândalos depois de alguns minutos.
“Nós estávamos trabalhando. Quem está no futebol trabalha, não é vagabundo. Trabalha sábado, domingo, feriado. Trabalha para ter resultado positivo que nem sempre a gente consegue. Quem está no futebol, em todos os clubes, tem dignidade, família, tem pai, mãe, e merece respeito. E covardemente o estádio foi invadido, a gente ser agredido, fisicamente, moralmente, porque um bando de desocupados se acha no direito de nos agredir, de nos bater e de quebrar o nosso patrimônio, de nos desmoralizar como pessoas e como profissionais”, desabafou Cíntia.
Essa história de torcedor e qualquer um achar que pode botar o dedo na cara de quem trabalha no futebol e dizer como as coisas têm que ser, tem que acabar. É um trabalho como outro qualquer, e ninguém, absolutamente ninguém do futebol, tem o direito de botar o dedo na cara de ninguém.
É cada vez mais notório e triste o esvaziamento dos campos de futebol e os porquês são claros no momento em que vemos a violência a campear nos estádios, fora deles e, nas redes sociais. É comum, agora, em qualquer derrota ou mau resultado a agressão a dirigentes, jogadores e comissão técnica de forma direta. Torcedores estão se tornando bárbaros, prontos a agredir com palavras e fisicamente qualquer integrante do espetáculo esportivo e até quem está fora dele.
Muitos parecem não temer a Justiça (até alguém da “pseuda Justiça” ter um ente querido ceifado), a Polícia ou qualquer forma de repressão e aproveitam o momento de uma derrota do seu time para satisfazerem egos bestiais de ignorância plena e sem sentido. É triste ver torcedores transformarem as imediações dos estádios em campos de batalha, em guerras travadas, às vezes, até entre membros da mesma torcida. O pior de tudo é que há mentes que atribuem o esvaziamento dos campos de futebol à proibição de bebida alcoólica no interior das arenas.
O futebol, infelizmente, está perdendo os verdadeiros torcedores para doentes, pessoas que vêm transformando momentos da magia fenomenal e tão belos do esporte em palcos para agressões bestiais. Do jeito que a coisa vai, poucas serão as pessoas sérias que participarão deste belo teatro do futebol, diante dos horrores da agressão, da destruição sem piedade.
Lembremos de quando o Tribunal de Disciplina da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) aplicou a pena de eliminação do Boca Juniors na Taça Libertadores da América, em 16/05/2015, por conta de um ataque de seus torcedores a jogadores do River Plate em partida da competição. Além da eliminação da equipe argentina da competição, o Boca ainda teve que jogar as próximas quatro partidas organizadas pela Conmebol, com os portões fechados em seu estádio, a Bombonera, onde aconteceu a confusão. O time também perdeu o direito a ingressos como visitante em outros quatro jogos e teve de pagar uma multa de US$ 200 mil.
O caso aconteceu na partida de volta das oitavas-de-final da Taça Libertadores da América, na Bombonera, entre o Boca e seu rival, o River Plate. A partida foi suspensa depois do intervalo, quando um torcedor do Boca atirou gás pimenta no túnel que dá acesso ao gramado para o time visitante. O jogo estava empatado em 0 a 0, o que garantia a classificação ao River (que venceu a partida de ida por a 1 a 0). Com a punição, o River Plate avançou à próxima fase.
E não é a primeira vez que o Boca se vê em situação parecida. Na Libertadores de 2005, o time argentino precisava reverter em casa uma desvantagem de 4 a 0 para o Chivas Guadalajara (do México). Aos 20 minutos do segundo tempo, quando a partida estava 0 a 0 (o que garantia a classificação do time mexicano à semifinal), começou uma confusão, com a expulsão de um jogador de cada lado. O jogador do time mexicano foi agredido por um torcedor que invadiu o campo e recebeu uma cusparada do treinador do time argentino. Pelo ocorrido, a Bombonera foi interditada por quatro jogos e o Boca multado em US$ 20 mil, nada mais — o Tribunal de Disciplina não existia à época.
Punir um clube pelas ações inapropriadas de seus torcedores, ao meu ver, é a única forma que a entidade promotora do evento, competição, apoiada pelas autoridades, possa verdadeiramente atingir os objetivos, entres os quais, se encontram a realização de competições livres de altercações que possam colocar em perigo, a segurança das pessoas, jogadores e oficiais que assistem pacificamente e participam do evento esportivo.