A atualidade das Associações Religiosas

por Altair Estrada
Neste mês de outubro a Congregação Mariana do Carmo de Itu comemora 97 anos. Às portas de seu centenário, certamente a ser festejado com muita pompa e circunstância, a Congregação é hoje um arauto de perseverança entre as associações religiosas da cidade. Fundada em 1922 por um grupo de jovens idealistas, liderados pelos frades carmelitas que há pouco haviam chegado à cidade para assumir a igreja do Carmo (1917), ela mantém-se firme e fiel ao seu propósito de santificação pessoal e de propagação da fé católica.
Digo que a Congregação é um arauto de perseverança porque, enquanto ela se manteve de pé e atuante durante estes quase cem anos, mesmo em meio a tantos percalços e dificuldades, outras tantas associações religiosas enfraqueceram e até desapareceram.
É claro que são várias as circunstâncias que ajudaram nessa derrocada das associações religiosas, mas creio que a maior delas foi uma total mudança de foco por parte da Igreja, especialmente do Brasil, que passou a enxergar nelas algo infrutífero, ultrapassado, direcionando suas atenções às novas pastorais e comunidades eclesiais. No entanto, enquanto nas associações, bem ou mal, havia uma constância e um maior comprometimento por parte de seus membros (pessoalmente conheci pessoas que comemoraram mais de 70 anos numa associação ou irmandade!), uma vez que na maioria das vezes vinculavam-se por meio de uma consagração e uma adesão a determinadas regras ou estatutos, em muitas pastorais e movimentos há um rodízio de pessoas, cuja participação condiciona-se muito mais às disponibilidades pessoais e familiares, a um modismo momentâneo, que a um verdadeiro compromisso com a santidade pessoal. Daí o surgimento de comunidades muitas vezes movimentadas, numerosas, mas absolutamente estéreis espiritualmente falando. Vemos pessoas que correm de um lado para outro, arrumam a igreja, enfeitam altares, organizam e trabalham em quermesses e eventos aqui e ali – o que, não tem dúvida, é de grande importância –, mas são incapazes de cultivar uma vida interior capaz de influenciar a si mesmos e transformar a sociedade.
A falta de apoio e incentivo fez morrer em Itu associações e irmandades tradicionais e importantes, como a Liga Católica Jesus, Maria, José, a numerosa Irmandade de São Benedito, a Irmandade do Santíssimo Sacramento, tão tradicional e atuante na paróquia da Candelária. Nem mesmo associações cujo carisma principal é a caridade e a assistência foram poupadas, como as Conferências Vicentinas, hoje ainda existentes, mas muito reduzidas em número e atividades. Algumas associações foram propositalmente extintas, como é o caso da antiga Congregação de Santa Terezinha, da igreja do Carmo: há quem conte que o então frade diretor, em meio à febre das mudanças promovidas pelo Concílio Vaticano II e diante de uma igreja repleta para sua comunhão mensal, simplesmente avisou ser aquele o último encontro do sodalício. Outras associações foram sucumbindo como que por inanição, relegadas ao esquecimento e ao desprezo do clero e das novas lideranças, fazendo com que não se renovassem, seus membros envelhecessem e, por fim, encerrassem suas atividades. Afinal, “só” serviam para rezar…
Problemas? Claro que a Congregação Mariana do Carmo e todas as associações religiosas e irmandades os tem. O clero tem problemas! O episcopado tem problemas! A Igreja tem problemas, sempre teve e sempre terá, não obstante continue sendo o meio necessário à salvação das almas!
A desvalorização quase que generalizada das associações religiosas, especialmente daquelas de vida consagrada leiga, é reveladora de uma grande superficialidade espiritual hoje dominante em nossas paróquias e comunidades. No entanto, o que a Igreja necessita é justamente de católicos verdadeiramente comprometidos com Cristo e com a causa do Evangelho, capazes de operar uma verdadeira transformação no meio em que vivem, coisa que as associações religiosas sempre souberam fazer muito bem.