Liturgia das Horas – II
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por Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano.

Apresento hoje o final do texto introdutório da Liturgia das Horas:

  1. Quem salmodia abre o coração aos sentimentos que brotam dos salmos, e acordo com o gênero literário de cada um, gênero de lamentação, confiança de ação de graças, ou gêneros outros que os exegetas com razão realçam.
  2. Procurando permanecer fiel ao sentido literal, quem salmodia se fixa na importância que o texto contém para a vida humana dos que crêem.
    Com efeito, é sabido que cada salmo foi composto em circunstâncias determinadas, que os títulos colocados no início procuram insinuar, segundo o saltério hebraico. Todavia, qualquer que seja sua origem histórica, cada salmo tem um sentido próprio que nem mesmo em nossa época podemos negligenciar. Embora esses poemas tenham sido compostos, há muitos séculos, por orientais, expressam muito bem as dores e esperanças, a miséria e a confiança dos seres humanos de qualquer época ou nação, sobretudo a fé em Deus, e cantam a revelação e a redenção.
  3. Na liturgia das Horas, quem salmodia não o faz tanto em seu próprio nome, como em nome de todo o Corpo de Cristo, e ainda na pessoa mesma do próprio Cristo. Aquele que tem isso bem presente, resolve as dificuldades que possam surgir, ao perceber que os sentimentos de seu coração, enquanto salmodia, discordam dos afetos que o salmo expressa. Por exemplo, estando triste e cheio de amargura, canta um salmo de júbilo, ou, estando feliz, canta um salmo de lamentação. Na oração meramente particular, isto facilmente se evita, porque nela há liberdade para escolher um salmo adequado ao próprio estado de alma. Contudo, no Ofício divino, os salmos em sua sequência oficial não se cantam em particular, mas em nome da Igreja, mesmo quando alguém recita sozinho alguma das Horas. Quem salmodia em nome da Igreja, poderá sempre encontrar motivos de alegria ou tristeza, porque também a isto se aplica a passagem do Apóstolo: “Alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram” (Rm 12,15).
    Assim, a fraqueza humana, ferida pelo amor de si própria, é curada na medida do amor com que a mente acompanha a voz de quem salmodia.
  4. Quem salmodia em nome da Igreja deve prestar atenção ao sentido pleno dos salmos, especialmente ao sentido messiânico, em virtude do qual a Igreja adotou o saltério. Este sentido messiânico tornou-se plenamente manifesto no Novo Testamento e foi enfatizado pelo próprio Cristo Senhor, que disse aos Apóstolos: “Era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24,44). O exemplo mais conhecido dessa interpretação messiânica é o diálogo no evangelho de São Mateus sobre o Messias, que é Filho de Davi e ao mesmo tempo Senhor de Davi: nesse diálogo, o salmo 109 (110) se aplica ao Messias.
    Seguindo esse método, os santos Padres entenderam e comentaram todo o saltério como profecia a respeito de Cristo e da Igreja. Com esse mesmo critério, escolheram-se os salmos na Sagrada Liturgia. Embora, por vezes, se tenham admitido algumas interpretações algo forçadas, tanto os Padres em geral como na Liturgia, com pleno direito, ouviram nos salmos Cristo clamando ao Pai, ou o Pai falando com o Filho, ou, inclusive, descobriram a voz da Igreja, dos Apóstolos ou dos mártires. Esse método de interpretação floresceu também durante a Idade Média: em muitos códices medievais do saltério, sugeria-se aos que salmodiavam algum sentido cristológico, por meio de um título anteposto a cada salmo. A interpretação cristológica não se limitou, de modo algum, aos salmos tidos como messiânicos, mas se estendeu a muitos outros casos em que, sem dúvida, são meras apropriações, embora aceitas pela tradição da Igreja.
    Particularmente na salmodia dos dias festivos, escolheram-se os salmos por alguma razão cristológica, e para sugeri-la se antepõem geralmente antífonas tiradas dos próprios salmos.

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