A Mãe que jamais  desampara
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Implantar uma obra social em qualquer associação religiosa, incluindo a Congregação Mariana, é sempre um grande desafio. A falta de iniciativa e disponibilidade dos membros somada à escassez de recursos, sobretudo financeiros, muitas vezes dificulta esse processo. No entanto, manter tais empreendimentos em benefício do próximo, além de edificante para o grupo, permite-nos viver momentos extraordinários que nos deixam claro que a obra vai muito além do nosso humilde trabalho voluntário.
A Congregação Mariana do Carmo de Itu, à qual pertenço, no ano de 1952, quando então contava com mais de 500 membros, fundou um ambulatório médico – o “Ambulatório Nossa Senhora do Carmo” – para atendimento de pessoas carentes. Inicialmente instalado na sede da Congregação Mariana, logo foi transferido para um prédio especialmente construído para abrigá-lo, pelos próprios congregados à noite e nos finais de semana. Agora instalado de forma definitiva, além do atendimento ambulatorial e de distribuição de remédios, passou a contar também com um gabinete dentário. Tudo graças ao voluntariado não só dos congregados como também de médicos e dentistas da cidade e do povo em geral.
No final dos anos de 1980 razões de força maior fizeram com que o ambulatório fechasse suas portas por cerca de cinco anos. Porém, quando reaberto, em 1994, a burocracia cada vez maior no país já não permitiu que funcionasse como antes, com atendimento médico, dentário etc. Exigia-se a dedicação exclusiva de profissionais dessas áreas à entidade, custo com o qual a Congregação não tinha condições de arcar. Então, embora continuasse com o nome tradicional de “Ambulatório”, passou a funcionar como um dispensário de medicamentos, uma pequena farmácia, fornecendo remédios à população carente mediante a apresentação de receita. Mesmo assim, sem contar com um farmacêutico que por ele respondesse exclusivamente.
Na linha do que dizia no início, são muitas as histórias bonitas envolvendo o Ambulatório do Carmo, que denotam que Nossa Senhora sempre esteve presente e cuidou dele, inclusive quando de sua reabertura. Mas, neste mês de outubro em que celebramos a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, vou me ater aqui a apenas uma delas, por mim vivenciada.
Era final dos anos 90 e eu era presidente da Congregação Mariana. Em uma determinada manhã, a equipe do ambulatório telefonou-me pedindo para que eu fosse até lá com urgência, ao que atendi prontamente. Saí em disparada e quando cheguei lá encontrei as portas do prédio fechadas. Entrei pela lateral e deparei-me com a equipe de atendimento daquele dia aflita, com uma notificação da Secretaria da Saúde da Prefeitura nas mãos: um medicamento teria sido entregue equivocadamente a uma pessoa, ocasionando o agravamento de seu estado de saúde. Denunciado às autoridades sanitárias, o Ambulatório do Carmo havia sido fechado.
O caso, se realmente ocorrido, era muito grave! Afinal, o Ambulatório ainda carecia de alguma formalização legal nessa sua nova fase e qualquer deslize poderia comprometer a continuidade do trabalho. Eram mais de 100 atendimentos diários, nos quais bem mais da metade das pessoas obtinha o remédio de que necessitava.
Saí dali direto para a vizinha igreja do Carmo, vazia naquele momento, e dirigi-me para o altar-mor. Ajoelhei-me diante da querida imagem de Nossa Senhora e lhe disse: “Mãe do Céu, resolve essa pra nós… Afinal, a obra é sua e não nossa!”, e concluí com uma Ave Maria. Levantei-me e saí correndo para a Secretaria de Saúde, cuja base ficava a poucas quadras dali.
Lá fui recebido pela própria funcionária que havia emitido a fatídica notificação, com a segunda via dela já com um carimbo de “cancelado”: o denunciante havia a pouco saído dali, onde esclareceu que fora ele quem se enganou com as receitas e com o remédio tomado…
O Ambulatório do Carmo permanece em pleno funcionamento até hoje, atendendo a centenas de pessoas mensalmente. E agora – felizmente – até com o necessário farmacêutico! Por mais que pareçam insolúveis nossos problemas, Maria Santíssima é sempre um luzeiro de esperança, que a ninguém desampara. Basta confiar.