A Páscoa de Jesus 9 – A ressurreição “A paz esteja convosco” (João 20,21)
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O centro da nossa fé e o coração da nossa esperança estão profundamente enraizados na ressurreição de Cristo. Ao lermos com atenção os Evangelhos, percebemos que esse mistério é surpreendente, não apenas porque um homem – o Filho de Deus – ressuscitou dos mortos, mas também pela forma como escolheu fazê-lo. De fato, a ressurreição de Jesus não é um triunfo estrondoso, não é vingança nem desforra contra os inimigos. É o testemunho maravilhoso de como o amor é capaz de se erguer após uma grande derrota e seguir seu caminho invencível.
Quando nos levantamos depois de um trauma causado por outros, muitas vezes nossa primeira reação é a raiva, o desejo de fazer alguém pagar pelo que sofremos. O Ressuscitado, porém, não reage assim. Ao sair da mansão dos mortos, Jesus não busca vingança. Ele não volta com gestos de poder, mas manifesta, com mansidão, a alegria de um amor maior do que qualquer ferida e mais forte do que toda traição.
O Ressuscitado não sente necessidade de reafirmar sua superioridade. Ele se mostra aos amigos – os discípulos – de forma discreta, respeitando o tempo da acolhida deles. Seu único desejo é retomar a comunhão, ajudando-os a superar a culpa. Isso fica claro no cenáculo, quando o Senhor aparece aos amigos que estavam fechados pelo medo. É um momento de força extraordinária: depois de descer aos abismos da morte para libertar os que estavam aprisionados, Jesus entra na sala trancada, onde os discípulos permaneciam paralisados pelo medo, e lhes traz um dom que ninguém ousaria esperar: a paz!
Sua saudação é simples, quase comum: “A paz esteja com vocês!” (Jo 20, 19). Mas é acompanhada de um gesto tão profundo que quase soa desconcertante: Jesus mostra as mãos e o lado, ainda marcados pelos sinais da paixão. Por que exibir as feridas justamente diante de quem, nas horas mais dramáticas, o negou e abandonou? Por que não escondê-las para evitar reabrir a vergonha?
O Evangelho, no entanto, afirma que, ao verem o Senhor, os discípulos se alegraram (cf. Jo 20, 20). O motivo é profundo: Jesus está plenamente reconciliado com tudo o que sofreu. Não há sombra de rancor. Suas feridas não servem para acusar, mas para confirmar um amor mais forte que qualquer infidelidade. Elas são a prova de que, justamente no momento da nossa falha, Deus não desistiu de nós.
Assim, o Senhor se apresenta sem armas, sem imposições. Seu amor não humilha; é a paz de quem sofreu por amor e agora pode dizer que valeu a pena!
Nós, ao contrário, muitas vezes escondemos nossas feridas por orgulho ou por medo de parecer frágeis. Dizemos “não importa”, “já passou”, mas, no fundo, não estamos em paz com as traições que nos feriram. Às vezes, escondemos a dificuldade de perdoar para não parecer vulneráveis ou para evitar o risco de sofrer de novo. Jesus não faz isso! Ele oferece suas chagas como garantia de perdão. Mostra que a ressurreição não apaga o passado, mas o transforma em esperança de misericórdia.
Em seguida, o Senhor repete: “A paz esteja com vocês!” E acrescenta: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20, 21). Com essas palavras, confia aos apóstolos uma missão que não é tanto um poder, mas uma responsabilidade: serem instrumentos de reconciliação no mundo. Como se dissesse: “Quem poderá anunciar o rosto misericordioso do Pai, se não vocês, que experimentaram o fracasso e o perdão?”.
Então Jesus sopra sobre eles e infunde o Espírito Santo (cf. Jo 20, 22), o mesmo Espírito que o sustentou na obediência ao Pai e no amor até a cruz. A partir desse momento, os apóstolos não poderiam mais se calar diante do que viram e ouviram: que Deus perdoa, levanta e devolve a confiança.
Esse é o coração da missão da Igreja: não administrar poder sobre os outros, mas comunicar a alegria de quem foi amado exatamente quando não merecia. Foi essa força que fez nascer e crescer a comunidade cristã: homens e mulheres que descobriram a beleza de recomeçar para poder oferecer vida nova aos outros.
Queridos irmãos e irmãs, também nós somos enviados. Também a nós o Senhor mostra suas feridas e diz: “A paz esteja com vocês!”. Não tenham medo de mostrar as próprias feridas curadas pela misericórdia. Não tenham medo de se aproximar de quem está fechado pelo medo ou pela culpa. Que o sopro do Espírito faça de nós, também, testemunhas dessa paz e desse amor mais forte que qualquer derrota.