A música na Procissão de Passos
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por Prof. Luís Roberto de Francisco

Sabe-se que desde o final do século XVIII é realizada em Itu a Procissão de Nosso Senhor dos Passos pela Igreja do Carmo. É a única cidade paulista a conservar esta tradição ibérica. A chegada da imagem do Senhor dos Passos a Itu, relatada por Francisco Nardy Filho, é a evidência mais antiga da sua realização. Foi encomendada no Rio de Janeiro pela Ordem Terceira.

A música escrita em Itu para a procissão destaca-se no universo artístico local. O Canto da Verônica foi composto pelo padre Jesuíno do Monte Carmelo, provavelmente em 1804, mas para a Procissão do Enterro e aproveitado para a de Passos.

Já os motetes, ou seja, as músicas específicas para cada Passo, montado nas casas de famílias ituanas, são mais recentes. Há duas obras conhecidas. A primeira é de Elias Álvares Lobo (1834 – 1901) de 1869, para coro masculino a três vozes. Foi cantada pelo Vozes de Itu há cerca de vinte anos, em forma de concerto. Porém das seis obras só se conhecem quatro. O restante está perdido. O acompanhamento orquestral é para duas flautas, duas trompas e violoncelo.

Os motetes atualmente cantados são de José Mariano da Costa Lobo (1857-1892), sobrinho de Elias Lobo. São as belas melodias de 1890 que muitos ituanos conhecem e cantarolam por toda a Semana Santa. José Mariano foi um talentoso músico, envolvido com a paróquia Candelária, da qual foi inclusive administrador de festas (fabriqueiro). Morreu aos 35 anos. Há uma biografia dele disponível para venda na Banca do Toledo.

As músicas são para coro a duas vozes, tenores e contraltos. A voz aguda era cantada por meninos, pois as mulheres não se apresentavam em público, somente a Verônica completamente oculta. Acompanham duas flautas, duas trompas e um ofcleide (atualmente contrabaixo).  

Na década de 1910, Tristão Júnior (primo do compositor) fez arranjo da obra para quatro vozes, acrescentando cordas e madeiras à orquestra, o que a descaracterizou, porque deu aspecto muito vibrante. Essa foi a versão feita por todo o século XX.

Em 1954, ao fazer nova partitura, uma copista confundiu o nome do compositor de “C. Lobo” (como José Mariano assinava) para E. Lobo (de Elias Lobo). A atribuição correta só foi dada em 1992, quando foram conhecidos os originais de ambos compositores. Os de José Mariano se encontram no Museu da Música – Itu.

Em 2007 o maestro Vinícius Gavioli, transcreveu a obra de José Mariano para o coral Vozes de Itu, que acompanha o cortejo há 15 anos, e daí em diante as músicas são cantadas como foram compostas.

O interessante é que as duas obras acompanham a tradição brasileira de se escrever somente seis motetes e repetir-se o terceiro no último Passo.

João Narciso do Amaral (1856 – 1905) compôs as Marchas do Senhor dos Passos, quatro belas e reflexivas peças para a banda tocar quando o cortejo se movimenta.

Esta Procissão é um importantíssimo patrimônio ituano. Em 2020 não estará nas ruas, mas permanece forte em nosso coração.  

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