Novembro é o mês das almas
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por Altair José Estrada Junior

Por celebrar logo em seu início, no dia 2, a comemoração de todos os fiéis defuntos – o dia de Finados a Igreja dedica o mês de novembro todo à oração pelas almas do purgatório.
Durante 30 dias que coincidem com os últimos dias do ano litúrgico, os cristãos são chamados a refletir de modo especial sobre a realidade da morte, sobre o mistério da existência e a sufragar aqueles que já cumpriram sua vida terrena e se purificam no purgatório para, enfim, ingressar na felicidade plena do céu.
A fé católica nos ensina que, logo após a morte, somos imediatamente submetidos ao chamado “juízo particular”, entre Deus e nós, no qual nos é dada a consciência do bem e do mal que fizemos em vida, para então entramos na glória ou na danação eterna.
No entanto, muitas pessoas, embora tenham vivido bem e na graça de Deus neste mundo, necessitam ainda de um período de purificação para poder gozar das alegrias sem fim no céu, onde não há espaço para imperfeições: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”, diz-nos Nosso Senhor em Mateus 5,48. Esse estado de purificação é o purgatório que, como que situado às portas do céu, constitui mais uma prova do amor de Deus por nós, que até mesmo depois de nossa morte nos concede uma oportunidade de nos libertarmos de toda mancha venial em vida para nos encontrarmos com Ele…
Embora felizes pelo iminente encontro com Deus, as almas do purgatório penam; o purgatório é um estado de sofrimento pelo ainda distanciamento de Deus, sem que as almas a ele submetidas absolutamente nada possam fazer em favor de si próprias. No entanto, tal sofrimento pode ser perfeitamente atenuado ou mesmo eliminado por meio de NOSSOS sufrágios, orações, sacrifícios, obras de caridade, indulgências ganhas etc. E, entre todas as práticas que podem ser oferecidas em favor das almas, certamente exorbita em eficácia a santa missa, sempre tão valorizada pela Igreja, sejam as especiais de exéquias, sétimo e trigésimo dias, de aniversário e as gregorianas, de 30 dias consecutivos por uma determinada alma, sejam as quotidianas pelos defuntos.
Todavia, se por um lado é tão oportuna uma revalorização das orações e práticas litúrgicas em favor dos falecidos, também é necessário corrigir alguns desvios que se observam ultimamente, fruto do esvaziamento da fé, que não toma conta somente da sociedade, mas de muitos setores da própria Igreja.
Ouvimos muito falar em missa celebrada “em homenagem” a uma pessoa, disso ou daquilo. Não! O único homenageado na missa é o Pai Eterno, pelo sacrifício amoroso de Seu Filho Jesus, que nela se renova. A missa celebra-se – ou se manda celebrar – EM SUFRÁGIO de uma alma, PEDINDO ou AGRADECENDO graças, ou em louvor ao próprio Deus e a Deus em seus anjos e santos. No caso dos mortos, se celebramos ou assistimos a uma missa por um falecido é porque acreditamos que ele AINDA não esteja no céu e PRECISE de nossas orações para alcançar a bem-aventurança eterna. Não há sentido algum na “canonização” que alguns celebrantes já fazem dos mortos nas missas exequiais, afirmando que com certeza tais já estão no céu etc. Por mais que possam ser exaltadas suas virtudes, que inclusive devem servir de exemplo e edificação para os que aqui permanecem, ali estamos porque cremos no purgatório e que aquela alma pode precisar de nossas orações. Também soa estranho o recente costume de dedicar uma “Ave Maria” pelo falecido ao final da missa já por ele celebrada. É como pingar uma gotinha d’água num oceano, dando aos fiéis a errônea impressão de que a lembrança do morto, enfim, reduziu-se àquela oração.
Fato é que não sabemos quem efetivamente necessita de oração, pelo que devemos ser perseverantes em rezar não somente pelos nossos entes e amigos queridos falecidos, mas em geral pelas almas do purgatório: “…levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente as que mais precisarem”, como Nossa Senhora ensinou aos pastorinhos em Fátima e costumamos acrescer a cada mistério do rosário. Então, também é certo que, caso a alma por quem pedimos já esteja no gozo beatífico e, portanto, já não necessite de orações, pelo maravilhoso mistério da Comunhão dos Santos estas são aproveitadas por quem efetivamente precise.
Tomemos o empenho de rezar – neste mês de novembro e sempre – pelas almas do purgatório. Se sabemos que no céu as almas estarão na feliz visão e companhia de Deus e que com nossos sufrágios podemos acelerar esse encontro, sendo eternamente reconhecidos pelo bem que fizemos a elas, haveremos de prescindir de tão importantes intercessores?