A aquinate e o bem-estar mental

São Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos e filósofos da Idade Média, oferece em suas obras uma visão profunda sobre a natureza humana, que pode ser aplicada à compreensão da saúde mental.
Embora o conceito moderno de saúde mental não existisse no século XIII, os escritos de Aquino, especialmente em sua Summa Theologica e De Veritate, abordam a harmonia entre corpo, alma e intelecto, proporcionando uma base para reflexões contemporâneas sobre o bem-estar psicológico.
Para Aquino, o ser humano é uma unidade composta de corpo e alma, sendo a alma a forma do corpo. Essa visão holística sugere que a saúde mental depende do equilíbrio entre as faculdades da alma — intelecto, vontade e paixões — e a sua ordenação ao bem supremo, que é Deus.
Ele argumenta que a felicidade verdadeira, ou beatitudo, não se encontra em bens materiais ou prazeres sensoriais, mas na contemplação da verdade divina. Essa perspectiva implica que a saúde mental está intrinsecamente ligada à busca por um propósito maior, algo que ressoa com abordagens modernas que associam bem-estar psicológico a significado e transcendência.
As paixões, que hoje poderíamos relacionar às emoções, ocupam um lugar central na antropologia de Aquino. Ele as considera movimentos da alma que, quando ordenados pela razão, contribuem para a virtude. No entanto, paixões desordenadas, como a tristeza excessiva ou a ira descontrolada, podem perturbar a alma.
Aquino sugere que a prática das virtudes, especialmente a prudência e a temperança, ajuda a moderar essas paixões, promovendo um estado de paz interior. Essa ideia alinha-se com práticas atuais de regulação emocional, como a terapia cognitivo-comportamental, que enfatiza o controle dos pensamentos para gerenciar emoções.
Outro aspecto relevante é o papel da comunidade na visão de Aquino. Ele destaca que o ser humano é um “animal social” e que a vida em comunidade é essencial para a realização plena. A saúde mental, portanto, não é apenas uma questão individual, mas também relacional. A caridade, entendida como amor ao próximo, fortalece os laços sociais e promove o bem comum, o que pode ser comparado à importância do suporte social na psicologia moderna.
Além disso, Aquino enfatiza a importância da contemplação e do descanso em Deus para a alma. A prática da oração e da reflexão, em sua visão, renova a mente e alivia as tensões internas. Essa abordagem antecipa práticas de mind fulness e meditação, que buscam acalmar a mente e promover clareza mental.
Em suma, os escritos de São Tomás de Aquino oferecem uma compreensão rica e multifacetada da saúde mental, ancorada na integração entre razão, emoção e espiritualidade. Sua ênfase na ordenação das paixões, na busca pelo bem supremo e na vida comunitária proporciona insights valiosos para o cuidado psicológico. Embora expressa em um contexto teológico, sua sabedoria permanece relevante, convidando-nos a cultivar uma vida equilibrada e orientada para o transcendente.
Amém.