Corpo humano: liberdade e transcendência

Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
A valorização do corpo implica reconhecer que ele é destinado a expressar realidades que o ultrapassam e o transcendem. Nossa estrutura corporal — com sua “não especialização” — permite múltiplas possibilidades: nadar, voar, comunicar-se com linguagem, amar com liberdade. O corpo humano, ao mesmo tempo frágil e misterioso, não é um fim em si mesmo, mas um instrumento da liberdade e da espiritualidade, chamado a manifestar o amor de Deus.
Os riscos das visões reducionistas
Hoje, muitas visões reducionistas ameaçam essa concepção integral do ser humano. De um lado, o materialismo nega a dimensão espiritual da pessoa. De outro, ideologias contemporâneas confundem igualdade com uniformidade e consideram a diferença sexual como construção cultural opressiva. Ambas as visões empobrecem a dignidade humana. A antropologia cristã, ao contrário, propõe uma síntese elevada e verdadeira: a diferença é dom, e a comunhão é vocação. É no encontro entre o corpo e o espírito que o ser humano encontra sua verdade mais profunda e seu chamado ao infinito.
A fé cristã ensina que toda identidade humana floresce quando se reconhece como relacional, sexuada e aberta ao outro. Não se trata de negar experiências singulares, mas de afirmar que homem e mulher são chamados à plenitude do amor. Essa plenitude, guiada pelo Espírito Santo, convida cada pessoa a descobrir no corpo não um limite, mas uma via para a comunhão com Deus e com o próximo. A diferença, quando vivida com respeito e abertura, é um caminho para a unidade.
A diferença que une
“Homem e mulher os criou” (Gn 1,27) não é uma limitação nem uma imposição. É uma afirmação profunda do amor divino, que se revela na diferença e chama à comunhão. Defender a dignidade humana exige reconhecer essa verdade: homem e mulher são expressão da imagem de Deus, na igualdade da dignidade e na complementariedade do ser. Juntos, são chamados à vida plena, à missão compartilhada e ao dom de si. Nessa vocação recíproca, o corpo se torna templo do Espírito, lugar de santidade e de manifestação da beleza divina.