Aqueles maviosos sons na Candelária

por Evandro Antônio Correia
E, em um novo respiro, Pe. Miguel remodelara o serviço de música. O seu mais longevo Maestro-de-Capela foi Tristão Mariano da Costa, em acordo com mente do pároco, foi herdeiro da música ituana.
Em 1883 um novo monumento vem a fazer parte da Candelária: um órgão de tubos francês «Cavaillé-Coll». Chega a Itu o mais moderno órgão: novos tipos de alavancas, efeitos especiais para a «bateria de trombetas», a sua fachada em madeira de carvalho muito refinado na Europa (até hoje em 2019) em estilo neo-gótico francês, seguindo a europeização do templo.
O fascínio se mistura com a novidade. Interressante dizer que com a instalação no dia 22 de abril foi, para muitos ituanos, a «descoberta» de novos sons: ouvir, intuir, conhecer, saber, ver que aquela nova «engenhoca da Europa» é bonita, é bela, nos eleva. Talvez a redescoberta de toda uma transcendência, de uma Beleza nova. A inauguração foi no início da Semana Santa. Todo o momento sublime do Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo seria acompanhado e partecipado com aquele, também, misterioso instrumento. Será que os novos sons ajudaram nos animos e sentimentos dos ituanos naquele momento histórico e fundamental da fé? A Música tem o seu poder de fascínio, de introspecção, de alegria.
Tristão Mariano, na Matriz, tinha um coro misto, um coro infantil, a orquestra e o órgão. E com a inclusão do novo instrumento no complexo arquitetônico-acústico, marcou uma nova concepção musical, diferente daquilo que Jesuíno do Monte Carmelo e Miguel Dutra haviam caracterizado.
Como seria ouvir José Mariano da Costa Lobo, o 1° organista do Cavaillé-Coll da Candelária estudando durante a semana com a cidade vazia? Aqueles prolongados sons dos tubos que são brilhantes e dão uma encorpada presença na massa sonora; os delicados e sustentavéis sons no simples acompanhamento de uma missa. Os sons que emitem algo mais, parecem que há um enriquecimento sonoro, apropriado na interpretação de uma peça solísta, e poderia ainda fazer a imitação da coruja na «Missa de Requiem», que seu tio Tristão havia composto para orquestra com coro. E ainda, Zezinho Mariano com todo o seu cabedal artístico podia fazer um pequeno «coro das violas» com os registros desse efeito sonoro, imitando as cordas. E aquela terrificante… «bateria de trombetas». E, mais! O grande solista, a estrela do Cavaillé-Coll, o encantador Oboé.
Será que rebumbavam todos aqueles inquietantes sons do órgão no Largo da Matriz? Será que se ouvia nos sobrados próximos? Aqueles que passavam pela Matriz no desenrolar da jornada pelos afazeres quotidianos, o que será que ficou em suas memórias? Com certeza, foi de uma profunda riqueza para todos. Tudo na Matriz se completava, no novo contexto, nada era fora de lugar.
Aquela cidade, da Província de São Paulo, retomava sua brilhante fama iniciada já no final do século XVII e com a nova cultura cafeeira, aquela do século de Pe. Miguel. Assim, o evento religioso da arte toca a realidade social, seus promotores e habitantes, de sua beleza e significado.
Até a próxima!